Um futuro promissor para os minerais industriais

29/07/2021
A coordenação do evento foi de Renato Ciminelli, membro do Conselho Consultivo da Brasil Mineral.

 

A Revista Brasil Mineral promoveu, no dia 28 de julho, o webinar ‘Minerais Industriais no Brasil - Panorama Atual e Perspectivas’ com o objetivo de debater o panorama atual e as perspectivas para os minerais industriais no País. A coordenação do evento foi de Renato Ciminelli, membro do Conselho Consultivo da Brasil Mineral. O webinar contou com o patrocínio das empresas Bautek, Mineração Taboca e Sigma Lithium, além do apoio da Roskill. 

Dividido em quatro painéis, o primeiro painel teve o tema ‘Números e tendências dos segmentos de mercado de minerais industriais’ e contou com apresentação de Marcio Goto, Gerente Regional América Latina da Roskill, tendo como debatedores Eduardo Cavalcanti, da Brasil Minérios, e Gilberto Calaes, do SGB-CPRM. 

Márcio Goto iniciou o Painel 1 falando sobre o mercado para os minerais industriais, dentre os quais grafita, bauxita não-metalúrgica, magnesita e outros materiais refratários, fluorita, caulim, minerais de titânio e lítio. Segundo Goto, a grande produtora mundial de minerais industriais é a China e o país importa boa parte da matéria-prima para a produção de grafita. Em relação ao titânio, o mercado tem tendência de crescimento – não tão forte - no uso de tintas e pigmentos, enquanto o caulim tem demanda para diversos usos. Sobre o lítio, o mercado está implantando plantas próximas ao mercado automotivo e a demanda mundial de lítio dever crescer 5 x até 2030. 

Eduardo Cavalcanti, da Brasil Minérios, grande produtora de vermiculita, informou que a planta atual da empresa vai produzir 70 mil toneladas/ano de vermiculita e que fornece para a indústria automobilística, siderurgia, construção civil, entre outros. 

Já Gilberto Calaes disse que determinados recursos minerais, como bauxita e Magnesita, entre outros, podem ser caracterizados como minerais industriais em razão das suas funcionalidades. “Se pegarmos o grupo de recursos minerais estruturais estão os agregados – brita e areia - ou , por exemplo os minerais para energias renováveis, como grafita e lítio”. Já os agrominerais são importantes para abastecimento interno, em especial, do agronegócio. “Além destes, tem tantos outros grupos de bens minerais com funcionalidades diferenciadas, como a grafita – carburante na siderurgia ou elemento refratário - e a vermiculita como isolante acústico”. 

Gargalos produtivos 

O segundo painel, com o tema ‘Gargalos Produtivos’, teve apresentação de Maria José Salum, Conselheira da Brasil Mineral, e os debatedores Michel Marques Godoy, chefe da Divisão de Minerais Industriais da SGB-CPRM, e Paulo Assunção, da Lamil. 

Maria José Salum começou a apresentação falando sobre a complexidade dos minerais industriais, que abrangem mais de 200 tipos de rochas e minerais. “Essa diversificação e de uso os minerais industriais mostra as várias aplicações em indústria química, eletrônica, água mineral, agregados e mais diversos outros setores, é responsável por uma desarticulação no Brasil, pois não temos uma associação com caráter técnico-cientifico que represente os minerais industriais”. 

Ela acrescentou que, com exceção de rochas fosfáticas e caulim, os minerais industriais possuem baixo consumo em diversas indústrias, o que implica em volume a ser produzido nacionalmente. A maior questão é que são empresas de pequeno ou médio porte. Salum observou ainda que as reservas brasileiras de lítio aumentaram de 0,4% para 8%. 

Ela também abordou um Projeto financiado pelo Banco Mundial/MME, que visitou 340 unidades produtivas no Brasil em que se verificou a necessidade de MPEs em geral no que se refere a politicas de inserção tecnológica (PPP, programas do Governo), Acesso ao crédito, Licenciamento ambiental proporcional ao tamanho e potencial poluidor dos projetos, Gestão – nas empresas, arranjos, aglomerados produtivos e certificação os produtos. 

Paulo Assunção, da Lamil, iniciou o debate falando do ponto de vista de quem está dentro da indústria. Segundo ele, o primeiro gargalo é a dificuldade e a falta de visão estratégica e a aproximação do produto ao que o mercado precisa. “A ausência da capacidade em pesquisa para desenvolver as funcionalidades dos minerais para o cliente, a baixa escala no mercado interno que inviabiliza investimentos, além de existir a disputa com produtos substitutos e falta de assistência técnica para o cliente são apenas alguns dos fatores”, afirmou Assunção.

Michel Godoy, da SGB-CPRM, disse que o órgão quer facilitar a vida do minerador em relação aos gargalos e tem trabalhado em relação à falta de gestão territorial. “Na época do PAC, houve o começo de um trabalho em regiões metropolitanas, e então, conversamos com gestores públicos e mineradores”. 

Ele informou que a CPRM irá estruturar um programa de extensionismo mineral em um projeto de longo prazo, com início, meio e sem fim. “Queremos trabalhar no que a sociedade precisa. Qual é valor social dos produtos da SGB? Vamos formar um primeiro GT na Borborema (RN) para assessorar o produtor mineral”.

Novas aplicações 

O terceiro painel teve como tema ‘Novas Aplicações para os minerais industriais’ e apresentação de Renato Ciminelli, do Mercado Mineral. Como convidados-debatedores, Luis Eduardo Martins Pereira, membro do Mineronegócio, e Reynaldo Noronha, da Bautek/Terra Goyana Mineradora. 

Ceminelli comenta que o universo de minerais industriais tem um potencial muito grande para ser explorado e uma forma de fazer isso é através do domínio cientifico e técnico (desafios do marketing). 

O domínio cientifico inclui a propriedade das interfaces, reatividade e funcionalidade dos minerais e performance dos materiais. Já o domínio técnico trata da manipulação das interfaces, características das partículas minerais e das propriedades dos materiais. “A postura do fornecedor e cliente do setor mineral é entender o que está usando. O fornecedor tem que ter intimidade com funções/aplicações sobre os minerais. O mesmo se aplica ao cliente, porque gera uma boa conexão entre as partes, além de provocar um bom resultado”, disse Ciminelli. 

Ele afirmou que entre as aplicações e minerais emergentes estão o mercado verde, sensores, materiais funcionais, novas energias/baterias e compósitos de alta performance. Os minerais mais utilizados para estas aplicações são terras raras, lítio, grafita, green minerals e Minerais Reativos (com propriedades elétricas e magnéticas). 

Luis Eduardo Martins Pereira considera importante o debate sobre minerais industriais e suas novas aplicações, já que boa parte vem de demandas para evoluções tecnológicas e inovações. Nas duas facetas, a P&D é muito importante. “Na área de areias industriais, a areia de fraturamento para petróleo e gás tem sido importante para viabilizar depósitos de xistos. Já o quartzo de alta pureza é muito procurado pela indústria eletroeletrônica e produtos de carbeto de silício grau eletrônico para carregadores de veículos elétricos, alémdas areias de argamassa. 

Ele salientou que a visão da indústria de mineração é distante das novas aplicações, pois o setor mineral foca apenas no processo. As mineradoras tentam trazer tecnologia e inovação nos últimos anos, mas o tamanho das empresas impacta a iniciativa. 

Reynaldo Noronha, da Bautek/Terra Goyana Mineradora, disse que o consumo anual de bauxita calcinada é de 150 milhões t/ano, dos quais 10%  para minerais industriais. A China foi o principal produtor mundial entre 2012 e 2018 de bauxita não-metalúrgica para fins industriais e detinha 52% do mercado. Entre 2013 e 2018 essa produção caiu de 60% para 44% da demanda mundial. 

“A redução de reservas da China está relacionada à exaustão, aumento de custos de produção e problemas ambientais. No Brasil, a Terra Goyana tem em Goiás uma bauxita que cresce cada vez mais por sua qualidade e extensão do cenário que temos”, disse Noronha. 

Minerais do futuro 

O quarto e último painel, ‘Minerais do Futuro’, teve apresentação de Silvia França, Diretora do CETEM-Centro de Tecnologia Mineral e como debatedores Denilson Coutinho, da Mineração Taboca, e Ana Cabral Gartner, da Sigma Lithium. 

Silvia França, do CETEM, começa indagando o que são os minerais do futuro e ela mesma responde que “são aqueles que agregam valor a diversos elos e entre eles estão o lítio, cobalto, níquel, nióbio, terras raras, silício, grafita e tantos outros”. A necessidade dessas matérias-primas cresce à medida que a indústria necessita de novos produtos que atendam a uma economia de baixo carbono. 

Ana Cabral Gardner, da Sigma, disse que é preciso contextualizar a demanda do lítio em veículos elétricos. No mercado do lítio, a demanda era de 300 mil t de LCE 2019/20. A projeção é de 2 milhões t para 2030. 

Ana disse que a Sigma realiza um trabalho no Vale do Jequitinhonha (MG) para desenvolver o lítio verde há sete anos. “Colocamos o Brasil na rota ao fazer o lítio pré-químico, de forma verde, associado ao impacto socioeconômico. Nossas operações - mineral e de beneficiamento – conseguiram fazer o valor do produto crescer 20 vezes com as técnicas verdes, ao atender critérios rígidos de graus de pureza para 17 variáveis”. Ela informou que a Sigma desenvolve uma planta 3.0 totalmente automatizada e digitalizada para o insumo minerado. 

Denilson Coutinho, da Mineração Taboca, disse que a empresa tem a maior mina polimetálica do Brasil, que no início da operação era praticamente apenas uma mina de estanho. Quando acabou o minério de aluvião, o desafio da Taboca foi entrar na rocha sã. “Hoje, a Taboca produz sete milhões de toneladas de estanho, quatro mil toneladas de nióbio e vários elementos para portfólio de pesquisa. Estamos desenvolvendo um modelo de pesquisa sustentável desde 2016. O maior desafio é a mão-de-obra capacitada, já que no Amazonas não há escola de mineração”. 

Desde 2017 a empresa procura transferir know-how para a Universidade do Amazonas e avançar no nióbio, para dobrar produção. “Na primeira expansão aproveitamos os rejeitos e a recuperação do nióbio saltou de 40 para 68%, enquanto a recuperação do estanho, de 70 para 80%. Para aproveitar o lítio, terras raras, zircônio, há um processo em desenvolvimento desde 2016.  Para Coutinho, o futuro dos minerais industriais está diretamente ligado a carros elétricos, alta comunicação, torres eólicas, que demandam metais e o fim do motor à combustão por energias mais limpas. 

A íntegra do webinar pode ser vista abaixo:

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