Introdução
O rompimento da barragem da Samarco, em novembro de 2015, pode ser considerado o "11 de setembro" da mineração brasileira. Acreditava-se que nada seria como antes e que a mineração passaria por uma grande transformação. No entanto, pouco mais de três anos se passaram e, em janeiro de 2019, aconteceu o rompimento de uma barragem da Vale, em Brumadinho. Esses eventos trouxeram grandes danos à imagem do setor mineral brasileiro e geraram pressão para mudanças no seu modelo de negócio. Desta forma, a adoção da agenda ESG deixou de ser uma oportunidade e tornou-se uma necessidade de curto prazo.
Dentro deste cenário, a i9 Mining, que é uma empresa focada no desenvolvimento sustentável da mineração, em parceria com o Núcleo de Apoio à Pesquisa para a Mineração Responsável da USP (NAP.Mineração) e a Unidade EMBRAPII Tecnogreen/USP, desenvolveram uma visão para a mineração alinhada aos ODS-ONU/20-30.
Para atingir essa nova visão, foram desenvolvidas e identificadas uma série de inovações que podem contribuir para o ganho de competitividade da mineração, para o desenvolvimento social da região e para a redução dos impactos ambientais; além disso, foi estruturada uma metodologia de trabalho utilizando os mecanismos de fomento à inovação que reduz riscos financeiros, permite o desenvolvimento de projetos mais consistentes e agiliza o licenciamento ambiental dos empreendimentos. Por meio dessa metodologia, a i9 Mining desenvolveu com sucesso três provas de conceito no Mining Hub para o aproveitamento sustentável dos rejeitos: o primeiro com a lama do minério de ferro da CSN e os outros dois com rejeitos da mineração de ouro da AngloGold Ashanti e da Aura Minerals.
Este artigo apresenta a proposta desenvolvida para a transformação da mineração em uma atividade mais sustentável, alguns exemplos de inovações que podem contribuir com a sustentabilidade do setor mineral e os mecanismos de fomento à inovação que facilitam o desenvolvimento e implantação destas inovações.
Solução Proposta
O desenvolvimento sustentável da mineração brasileira não é mais uma oportunidade, mas uma necessidade para sua sobrevivência; no entanto, esta pressão poderá ser positiva no sentido de promover a competitividade do setor e, assim, tornar possível o aproveitamento do enorme potencial mineral do Brasil.
Este caminho passa por inovação e melhoria de gestão, sendo que existem novas tecnologias e mecanismos de fomento à inovação que podem contribuir fortemente para alavancar a mineração brasileira e o desenvolvimento socioeconômico das regiões mineradoras.
O grande desafio é fazer com que os mineradores mudem a sua forma de pensar, para estabelecer modelos inclusivos de mineração e, com isso, mudar a percepção dos agentes públicos e da sociedade sobre o setor e, assim, contribuir com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU para serem atingidos até 2030 (ODS).
Recentemente, foi desenvolvido um projeto no Mining Hub sobre o aproveitamento sustentável dos rejeitos da CSN (Link da apresentação no demoday: https://www. youtube.com/watch?v=54pFD8PnBYI&fe ature=youtu.be). O Núcleo de Apoio para a Mineração da USP (NAP.Mineração/ USP) efetuou uma avaliação da potencial contribuição deste projeto para os ODS- -ONU/2030 e o resumo do resultado está apresentado na Figura 01.
Na Figura 01 pode ser constatado o grande potencial de contribuição da mineração para os dezessete ODS, onde o projeto apresenta alto impacto para nove dos objetivos, médio para quatro, baixo para um e irrelevante para três. Isto pode ocorrer em qualquer região, mas muitas vezes a mineração está localizada em áreas pouco desenvolvidas e, dependendo de sua estratégia empresarial, poderá contribuir muito para o desenvolvimento sustentável da região onde está inserida e para a interiorização dos ODS.
É importante ressaltar que a transformação da mineração passa pela adoção de inovações e que existem mecanismos de fomento à inovação que reduzem os riscos associados. Estes mecanismos permitem utilizar a capacidade instalada dos institutos de ciência e tecnologia (ICTs) para o desenvolvimento dos projetos, os financiamentos não reembolsáveis e subsidiados, e os incentivos fiscais. Com isso, é possível desenvolver, com baixo investimento, projetos amplos e com elevada qualidade, facilitando a sua aceitação pela comunidade local e agilizando o licenciamento ambiental.
O desafio está colocado, as condições para a sua superação estão disponíveis, mas como disse Einstein, “insanidade é continuar fazendo a mesma coisa e esperar resultados diferentes”, ou seja, se a transformação não ocorre na velocidade desejada, é porque existem barreiras culturais que necessitam ser eliminadas.
Dentro deste cenário, a solução desenvolvida considera três aspectos principais, que estão apresentados a seguir:
- Visão do processo de transformação da mineração;
- Inovações para promover esta transformação;
- Metodologia de fomento à inovação para reduzir os riscos para as inovações.
Veja o artigo completo na edição 440 de Brasil Mineral