Remineralizadores são opção para reduzir dependência

03/04/2022
A remineralização aumenta a eficiência na absorção dos fertilizantes, o que leva à redução gradativa do seu uso ao longo dos ciclos.

 

O conflito entre Rússia e Ucrânia acendeu ainda mais a dependência brasileira de fertilizantes importados do Leste europeu. Uma solução para substituir estes fertilizantes são os remineralizadores de solo, técnica que consiste em aplicar ao solo rochas moídas compostas por minerais que contribuem para a melhoria da fertilidade do solo, possibilitando seu rejuvenescimento. 

Atualmente, 25 remineralizadores tem registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), dentre os quais o Vulcano – primeiro produto do Norte-Nordeste. Com composição típica de rochas silicáticas basálticas, a matéria-prima do produto vem de mina própria, situada em Salvador (BA), próxima ao Terminal Portuário de Cotegipe. O remineralizador baiano é indicado para todos os tipos de cultura e solos, até pelo fato de ser um produto natural e sustentável, menos agressivo ao meio ambiente e que não contamina rios e lençóis freáticos. “Acreditamos que através da revitalização dos solos, com técnicas de manejo sustentável e de baixo impacto ambiental, eles se tornarão mais férteis e mais produtivos, ajudando a aumentar a produção de alimentos mais saudáveis”, relata o sócio-fundador da Vulcano, Vitor Almeida.

A sustentabilidade dos remineralizadores é uma das vantagens da prática, que deve crescer ainda mais nos próximos anos. Pesquisas com este tipo de material apontam que a técnica gera resultados em médio e longo prazo. A remineralização aumenta a eficiência na absorção dos fertilizantes, o que leva à redução gradativa do seu uso ao longo dos ciclos. Além disso, a prática reduz o consumo de água nas plantações, por gerar plantas com sistema radicular (responsável pela conexão entre as plantas com o solo) mais eficientes. 

A remineralização é uma das técnicas previstas no Plano Nacional de Fertilizantes 2050, lançado em 11 de março, e que prevê a utilização dos remineralizadores como uma das opções para reduzir a dependência nacional dos fertilizantes. De acordo o Plano, “a cadeia emergente dos remineralizadores (REM) constitui-se em uma oportunidade de o Brasil diminuir a dependência externa de aquisição de fertilizantes, uma vez que potencializa a eficiência de uso de nutrientes e a melhoria dos solos agrícolas”. Para o presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Antonio Carlos Tramm, o incentivo à pesquisa de soluções que diminuam a dependência dos fertilizantes estrangeiros é sempre bem vindo e investimentos como os que estão sendo feitos pela CBPM, na produção de fosfato, por exemplo, são de grande importância para a ampliação da produção de fertilizantes, e também outras técnicas que possam substituí-los. “Essa dependência brasileira é inadmissível e insustentável e precisamos reverter essa situação investindo em políticas públicas – de médio e longo prazo – eficientes, em pesquisa, em tecnologia e aproveitando de forma sustentável a nossa diversidade mineral”, pontuou Tramm. 

Segundo estudos realizados pela CPRM (Serviço Geológico do Brasil) na Bahia, no projeto de Agrominerais da Região de Irecê- Jaguarari-BA, constatou-se a presença de potássio e outros multinutrientes indicados para a remineralização de solo, na região e Campo Formoso e Pindobaçu, situado no centro-norte baiano. No entanto, são necessárias pesquisas complementares para verificar a viabilidade mercadológica e técnica sobre os possíveis locais e culturas que poderiam ser beneficiadas. Além dos remineralizadores, outras soluções estão sendo estudadas para reduzir a dependência brasileira dos fertilizantes, como por exemplo a utilização de turfas, um composto orgânico, decomposto na natureza, encontrado principalmente em áreas com solos hidromórficos (alta concentração de água nas partículas). 

A turfa é utilizada para melhorar as propriedades do solo através das substâncias húmicas (ácidos húmicos e fúlvicos) e age diretamente no solo ajudando a liberação dos nutrientes imóveis, os tornando móveis e assimiláveis pelas plantas. Além disso, o produto pode potencializar o efeito dos remineralizadores. O especialista em estudo de solos e desenvolvimento da turfa e suas derivações, Maurício Carnevali, diz que realizou estudos que mostraram que a associação entre a turfa e o pó de rocha contribuiu para a aceleração no processo de assimilação dos nutrientes do pó de rocha, além de aumentar o CTC (Capacidade de Trocas Catiônicas), melhorar a retenção hídrica e dentre outras coisas também diminuiu o uso de fertilizantes químicos. “Hoje, com a crise de fertilizantes do mercado mundial, alternativas viáveis e economicamente mais baratas já estão sendo aplicadas. E a mais eficaz que temos são a associação organomineral da turfa com pó de rocha, podendo conter associação biológicas como a Trichoderma, que combate alguns fitopatógenos nocivos às culturas, dentre outros biológicos que aumentam a disponibilidade do nitrogênio do solo. São inúmeras as possibilidades reais, com preços acessíveis e com resultados satisfatórios, onde se diminui a dependência química de fertilizantes e das importações dos macronutrientes principalmente nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K)”, ressalta Maurício Carnevali. Além disso, de acordo com Tramm, tais iniciativas também trarão benefícios econômicos. “Com isto, poderemos reduzir a sangria de dólares com as importações de fertilizantes”, destaca.