Um sistema descentralizado, em que as diversas áreas são protagonistas da inovação. Esta tem sido a estratégia adotada pela Vale, que foi eleita como Empresa do Ano do Setor Mineral 2024 na categoria Inovação e Tecnologia, para inovar em um setor que tradicionalmente avança pouco quando se trata do desenvolvimento e adoção de soluções inovadoras, como o de mineração.
De acordo com Leandro Teixeira, Gerente Geral de Inovação da Vale, que tem como uma de suas principais atribuições orquestrar a inovação na empresa, a estratégia tem dado bons resultados, com vários projetos já implementados, que têm contribuído sobretudo para a melhoria da performance da companhia, principalmente em termos de sustentabilidade do negócio.
Ele explica que, para implementação da inovação na empresa, há toda uma estrutura, que inclui uma área que faz a orquestração e o desdobramento estratégico do que se pretende realizar, traça as diretrizes ligadas com a estratégia de negócio e também faz a gestão do portfólio de projetos. Existem, ainda, algumas áreas de execução, de gerência geral de projetos, que executam a prova de conceito, porque quando se fala de inovação sempre deve haver uma área que executa essas provas de conceito, segundo ele. E também tem uma área que trabalha tanto com a parte estratégica como com inovação em modelos de negócio, procurando ver como se pode inovar nos modelos de interação. E isso inclui não necessariamente só a parte tecnológica, mas também a parte relacional. Por exemplo, como se inova trazendo uma startup para dentro da empresa ou criando uma startup da própria Vale.
Outra função da gerência geral é criar ecossistemas internos de inovação, chamados de hubs de inovação, que estão espalhados pelas operações da Vale. Hoje há 12 hubs internos. "E nessa mesma área, temos a função de fazer conexão com o ecossistema externo regional. Em Minas Gerais, por exemplo, tem o Mining Hub, que é um hub voltado para a mineração. A gerência de inovação faz a conexão com esse hub. E através da parte de inteligência e da parte de estratégia, faz conexão global com alguns players globais específicos, para garantir que se tenha input, acesso ao que está acontecendo no mundo sobre inovação", explica o gerente, informando que antes da entrevista a Brasil Mineral ele estava conversando exatamente com uma pessoa do MIT (Massachusetts Institute of Technology), com quem a Vale está desenvolvendo uma iniciativa. "É uma forma de garantir que a companhia está conectada e está entendendo a dinâmica de transformação do mundo para estar apta a captar as oportunidades, caso elas apareçam".
Principais drivers de inovação
O Gerente Geral acrescenta que a área de inovação tem uma conexão muito forte com a estratégia de negócio da companhia, que dá o direcional e a área cria uma estratégia de inovação com base nesse direcional. E dentro dessa estratégia de inovação, há os drivers. A Vale trabalha quatro temas, que chama de verticais: o primeiro é Mineração do Futuro, que tem o objetivo de criar uma mineração que seja mais eficiente, mais segura e mais sustentável, que são os três grandes pilares da mineração do futuro. "Quando falamos de Mineração do Futuro, estamos nos referindo a descarbonização, tecnologias para segurança, tecnologias de otimização de processos e novos processos". Outro tópico que a Vale considera muito importante é a Mineração Circular, em que se busca meios de gerar mais valor a partir de tudo que a empresa extrai, incluindo rejeitos e estéreis, com dois objetivos principais: reduzir, sempre tendo como alvo a geração zero de rejeitos. "Buscamos gerar a quantidade menor possível de rejeitos, ter uma operação que seja o menos invasiva possível e, do que for gerado, conseguir uma destinação de aproveitamento". Durante esse processo, ele explica que a empresa visa compartilhar o máximo de valor possível ao redor de onde está presente. "Quando fazemos, por exemplo, uma iniciativa de aproveitamento ou de novas aplicações para os rejeitos, buscamos, no nosso ecossistema de inovação, empreendedores que vão nos ajudar nesse processo. Ou seja, queremos que isso vire negócio também para os nossos parceiros, os empreendedores, para que eles, junto conosco, através de ferramentas de inovação, consigam caminhar nessa direção de ter rejeito zero, de praticar uma mineração circular".
A terceira vertical, muito focada no core business da Vale hoje, é Soluções de Minério de Ferro, que são novos produtos gerados para os clientes. "Hoje, temos um foco muito grande em suportar os nossos clientes nos desafios que eles têm – assim como nós – das mudanças climáticas. E neste caso o nosso principal cliente é a siderurgia. Eles têm o desafio de reduzir a pegada de carbono e fazem parte de uma indústria, assim como nós, que tem dificuldade em reduzir o seu footprint". A Vale produz soluções para esses clientes que vão desde produtos especiais, com alta concentração de minério de ferro, até produtos realmente novos, como o Briquete Verde, que a empresa desenvolveu recentemente e que tem potencial significativo de redução da emissão da siderurgia. "Esse tipo de desenvolvimento tecnológico, de inovação, fica disponível também nessa vertical de soluções de minério de ferro".
A quarta vertical, que é ainda bem exploratória para a empresa, em termos de inovação, são as soluções baseadas na natureza. A Vale quer saber como desenvolver e focar bastante nas soluções que se pode extrair da natureza, principalmente na Amazônia. "Temos uma operação no Sistema Norte relevante e o Instituto Vale de Tecnologia, inserido no ambiente amazônico. Como podemos aproveitar isso e desenvolver soluções tecnológicas baseadas na natureza?" Nessa linha, há iniciativas voltadas para descarbonização, crédito de carbono e a Vale quer potencializar isso. Um exemplo mencionado por ele é o do reflorestamento.
Para fazer essas verticais acontecerem, segundo Leandro Teixeira, a empresa utiliza o que chama de Veículos. Nessa linha, Pesquisa e Desenvolvimento é um veículo, assim como a Inovação Aberta, através dos hubs de inovação, que também são veículos para fazer isso acontecer. A Vale tem o CVC (Corporate Venture Capital), que é a ferramenta para investir em novas tecnologias disruptivas que o mundo apresenta e que podem afetar a mineração e a siderurgia. Também há um instrumento para possibilitar a criação de novos modelos de negócio e até criar uma startup, se for necessário, que é o Corporate Venture Building. "Usamos esses veículos de inovação para ajudar a atingir os objetivos que estão nas quatro verticais que mencionei. E por trás disso, vêm as pessoas, a fluência, a cultura, porque a inovação é feita por pessoas. Temos de garantir que tenhamos uma cultura de aprendizagem, de experiência dentro da empresa para fazer com que toda a capacidade humana que temos dentro da empresa atue em prol da inovação, porque precisamos fomentar uma cultura interna de inovação".
Veja a matéria completa na edição 444 de Brasil Mineral