Os desafios do mercado para os minerais industriais

28/06/2023
O mercado consumidor de minerais industriais foi o segundo tema de discussão no 8º. Encontro da Média e Pequena Mineração.

 

O mercado consumidor de minerais industriais foi o segundo tema de discussão no 8º. Encontro da Média e Pequena Mineração e contou com a participação de Reinaldo Noronha, CEO da Bautek Minerais Industriais, Renato Ciminelli, Diretor da Mercado Mineral, que atuou como moderador, Fernando Lins, pesquisador do CETEM e Luis Eduardo Martins Pereira, consultor e membro da Organização Mineronegócio 

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Reinaldo Noronha abordou as perspectivas do Brasil neste mercado, sendo uma parte dos minerais no setor de energia e a outra de minerais industriais, na cadeia de alumínio através da Bautek e Terra Goyana. 

Sobre energia, Noronha afirma que a matriz energética dos países do G-20 é a mais suja, em especial em países como Índia e China, enquanto o Brasil lidera o ranking das fontes mais limpas, o que só traz benefícios para a população. “De qualquer forma, todos os países lutam pra tornar a energia mais limpa e os investimentos feitos na última década em energia fóssil mostram-se cada vez mais em declínio, e, por outro lado, os aportes em energia limpa estão aumentando. Isto é uma realidade. O que não se percebe ainda é que o mundo já produziu e vendeu 1 milhão de veículos elétricos ou híbridos e a expectativa é de que, por volta de 2030, sejam 20 milhões anuais”. 

As empresas chinesas lideram esse mercado, seguido pela Europa no caminho rumo à eletrificação. E, para isto, há a utilização de minerais industriais para a fabricação de baterias. Dentre os minerais utilizados estão grafita, lítio, níquel cobre, cobalto, alumínio, manganês, dentre outros. A demanda por estes minerais é extraordinária. Outros minerais são empregados na fabricação de baterias, como as terras raras usados nas baterias mais novas, por serem mais efetivas, com cargas mais rápidas e por terem vida útil mais longa. “No Brasil isso já aconteceu e as montadoras começaram a adquirir projetos de mineração maduros para assegurar a disponibilidade dos minerais. Esse cenário das baterias não tem retorno”. 

Falando da empresa Bautek, Noronha comentou que tem uma usina de processamento de bauxita em Goiás e ela é um mineral da metalurgia do alumínio. Para os minerais industriais, ela tem uma gama extensa de aplicações, como refratários, abrasivos, produtos químicos, independente do tipo de bauxita. A Bautek e a Terra Goyana fornecem bauxita seca e moída para a indústria química para fazer coagulantes floculantes para tratamento de água, onde tratamos cerca de 30% a 40% de toda a água do Brasil. 

A bauxita para aplicações industriais tem a China como maior produtor, porém, entre 2013 e 2018, a produção caiu de 60% para 44% da demanda mundial. “Goiás tem reservas de 180 milhões de toneladas de bauxita suficientes para abastecer nossos negócios. Os tentáculos das mineradoras são dois: Recursos minerais certificados e a estrutura de produção e processamento. A mina de Barro Alto, com capacidade de 1,750 milhão de toneladas. É uma estrutura montada para atender esse mercado e o Brasil é peça importante no mercado de minerais industriais. “Alguns países têm ocupado mercado de bauxita para minerais industriais pela China, por causa da queda nas reservas, questões geopolíticas, situação da Ucrânia e o crescimento dos problemas ambientais na China. Já o Brasil tem aumentado sua participação no mercado de bauxita para minerais industriais e Terra Goyana, como mineradora, e a Bautek, processadora de bauxita, tem expandido os negócios no mercado interno e internacional. 

Fernando Lins, pesquisador do CETEM, disse que o instituto completou 45 anos em abril de 2023, tem sede no Rio de Janeiro e possui um Núcleo Regional em Cachoeiro do Itapemirim, focado em rochas ornamentais. O CETEM é um instituto público focado em tecnologia mineral e trabalha com empresas de diferentes tamanhos, sendo agora uma Unidade EMBRAPII. Como curiosidade, Lins disse que o CETEM quase nasceu em Goiânia em um terreno de 32 mil m² doado pelo Governo local. “Nos últimos seis anos desenvolvemos programas estratégicos em água e energia, minerais industriais e rochas ornamentais e devemos prolongar este programa para mais um quinquênio no final de 2023”. 

Lins apresentou a classificação dos minerais industriais (metálicos, não-metálicos e energéticos). A receita bruta de minerais não-metálicos em 2021 somou R$ 31 bilhões, crescimento de 9% e, em 2022, R$ 40 bilhões, um aumento de 16%. Nos anos de 2021 e 2022, as micro, pequenas, médias e grandes empresas somam 7.234, com faturamento de R$ 330 bilhões e 7.321, com R$ 250 bilhões, respectivamente. 

Recentemente, o pesquisador fez um estudo para o Centro de Gerenciamento de Estudos Estratégicos (CGEE/MCTI) sobre os desafios e oportunidades para a mineração. “A síntese do estudo é que há macrotendências globais, como sustentabilidade e transformação digital (Mineração 4.0); 2 ) tendências tecnológicas para a mineração mundial: minerais para transição energética, economia circular, escassez de água, recursos minerais mais difíceis de serem extraídos e processados, mitigação e prevenção dos impactos socioambientais; 3) temas próprios para o Brasil: redução da dependência internacional de fertilizantes, extensionismo mineral, Amazônia – C&T para um mineração mais sustentável”. O estudo indicou também como prioridades a pesquisa científica e tecnológica em geologia, pesquisa mineral, lavra, processamento e metalurgia e suporte à pesquisa científica e tecnológica em infraestrutura e RH. “Mais de sete mil empresas não receberam apoio sistemático do Estado brasileiro, como o setor agrícola recebe”. 

Para concluir a apresentação, Lins propõe um fundo de extensionismo mineral para apoiar as MPMEs, como fomento e modernização às mais de sete mil micro e médias empresas, rede de assistência tecnológica, melhoria dos processos produtivos e questões socioambientais, coma adoção dos princípios ESG, aplicações de tecnologias digitais nas MPMEs, APLs e cooperativas com apoio de starups e Mining Hub, além da gestão de um fundo ligado por vários ministérios para definir políticas e programas para cada segmento específico. “O dinheiro para criação do fundo sairia de um financiamento de 10% de investimento obrigatório das grandes mineradoras, por conta de uma Cláusula de Obrigatoriedade em P&D, como ocorre no setor elétrico”. 

Luís Eduardo Martins Pereira abordou o nicho de minerais da indústria de vidro para os pequenos mineradores. O fornecimento para vidro é pequeno quando comparado com a área de agregados. “Os principais minerais consumidos pela indústria de vidro são a sílica (areia), calcários dolomitos e feldspato. Se exige matéria-prima com pouquíssimo contaminante que dão cor ao vidro – óxidos de ferro, alumínio, cromo, além de minerais refratários. A umidade é normalmente baixa e a areia tem que ser seca para entrar no processo, além de estável pra a indústria de vidro”. 

O vidro brasileiro está presente no mercado consumidor, principalmente em São Paulo, e uma unidade em Pernambuco e outra em Santa Catarina. Embalagens e garrafas estão em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, duas fábricas em Sergipe e outra no Rio Grande do Sul. Já o vidro plano está em São Paulo e mais duas unidades – Pernambuco e Santa Catarina por causa da indústria de construção e automobilística. 

“Ligada à alimentação, as fábricas ficam fora da geologia regional, das jazidas e há um desafio logístico. Os incentivos fiscais contribuíram para que as fábricas ficassem distantes do mercado consumidor”. 

Os principais desafios são quatro: 1) Qualidade - requisitos elevados de granulometria, assimetria em relação ao fornecimento mais atual e controle de qualidade regular; 2) Escala: Possível assimetria em relação ao fornecimento mais atual e tendências; 3) Localização: mercado consumidor de vidro distante das jazidas e tendências; e 4) Investimento/ Custo de Capital - atendimento aos requisitos, qualidade, escala , localização e alto custo de capital. 

O nível de investimento para indústria de vidro é um pouco diferenciado para os pequenos mineradores, devido à qualidade requerida, que é assimétrica por parte desse segmento. Para resolver esses desafios, é importante a parte de inovação para processo e desenvolvimento de produtos específicos para determinado uso. “Não dá para fazer investimento grande com mercado pequeno, sem parcerias”. Estas parcerias ajudam a amortizar o capital e a ter acesso a financiamentos, coisa que o pequeno não tem e precisa de compartilhamento das vantagens obtidas. “Uma fábrica de vidro se não compartilhar os benefícios com a cadeia dela, dificulta a instalação do pequeno minerador. Além disso, nem sempre se tem transparência, algo crucial”. 

Por último, Renato Ciminelli disse que a mineração é muito pragmática e tem dificuldade de lidar com as sutilezas sociais. “As quatro grandes empresas de consultorias dizem que mineração tem momentos de reinvenção, principalmente no que se referem à licença social, ESG e a questão da digitalização da mineração”. 

Dentre os dez maiores riscos para a indústria mineral em 2023, segundo a EY, alguns cruciais para a mineração são ESG, licença para operar, geopolítica e mudança climáticas , inovação e digitalização. “Nós estamos evoluindo e passando muito por Governança. Qual é o comportamento da mineração? Ela continuará reativa, ou assumirá o papel de protagonista nesse novo ecossistema? Na minha opinião, deveria ser o segundo papel. 

Ciminelli propõe um novo olhar para o mercado consumidor, acompanhado de modo geral pela mineração de forma mais pragmática e quantitativa. “O mercado consumidor pode ser entendido como uma plataforma para o levantamento de parâmetros mais qualitativos e estratégicos de segmentos da sociedade (expectativas, tendências, valores, critérios, etc). A mineração do futuro será avaliada por parâmetros mais críticos da sociedade”. 

O moderador conclui dizendo que stakeholders com pautas sustentáveis da mineração erroneamente interpretados como ativismo, devem ser vistas como colaboradores. “A mineração tem que saber ler as demandas e expectativas da sociedade e mercado consumidor, que diante da velocidade da comunicação atual pode comprometer resultados de médio e longo prazo. Há a necessidade de um novo posicionamento e o grande desafio da mineração é a governança. O protagonismo pode ser assumido pela mineração”.