Francisco Alves
O índice de preços de metais e minerais do Banco Mundial caiu 20% no terceiro trimestre de 2022 e ficou 31% mais baixo do que o pico de março deste ano. Para a instituição, o declínio é resultado da deterioração global da atividade econômica e dos temores de uma recessão global. A demanda industrial por commodities continuou fraca no pós-pandemia, enquanto na China, principal consumidor de metais no mundo, a demanda se manteve fraca devido às restrições relacionadas com a Covid-19 e ao stress no setor de construção.
As projeções são de que os preços dos metais deverão cair em torno de 15% em 2023, seguindo o declínio marginal de 2022. Os riscos relacionados com as projeções de declínio incluem uma recessão global e prolongados lockdowns, além de maior deterioração do setor imobiliário chinês. Já as perspectivas de alta de preços dependem de novos fechamentos de capacidade de smelters intensivos em energia se os preços da energia subirem mais do que o previsto.
O alumínio e o zinco são particularmente vulneráveis a flutuações nos preços da energia, já que são os metais cujo processamento é mais intensivo em energia. Os recentes anúncios da China de planos de investimento em infraestrutura podem segurar os preços. E, em longo prazo, a transição energética pode beneficiar vários metais, especialmente alumínio, cobre e níquel, devido às inúmeras aplicações em veículos elétricos (VEs), baterias e infraestrutura de carregamento e distribuição.
Minério de ferro
Os preços do minério de ferro caíram 23% no terceiro trimestre de 2023 e ficaram 35% mais baixos em setembro, quando comparados ao pico de março. O declínio reflete a redução na produção de aço relacionado com o slowdown global da indústria e na atividade de construção, já que o minério de ferro é um insumo-chave na produção de aço. A produção de aço na China foi comprimida por lockdowns e pela fraqueza no setor imobiliário. Fora da China, o menor ritmo da atividade de construção e custos de energia mais altos forçaram os produtores de aço a fazerem cortes na produção. O mercado do minério de ferro está superofertado, apesar das quedas nas exportações da Rússia e Ucrânia e mais baixas exportações da Índia devido a incrementos nas tarifas de exportação. A expectativa é que os preços do minério de ferro caiam 17% em 2023, após um declínio de 26% em 2022. As projeções de oferta e demanda em longo prazo apontam para uma persistente pressão de baixa nos preços do minério de ferro. Pelo lado da oferta, espera-se que as companhias australianas e brasileiras (incluindo BHP, Fortescue, Rio Tinto e Vale) adicionem capacidade. Há também novos projetos esperados em outros lugares (Guiné, por exemplo) e o aumento na reciclagem de aço podem aumentar a oferta no mercado global. Quanto à demanda, os programas de descarbonização na China podem limitar a produção de aço e o consumo de minério de ferro. Isto pode ser parcialmente suplantado pelo incremento na demanda devido à transição energética, já que algumas fontes de energia renovável são intensivas em aço (por exemplo, turbinas eólicas).
Alumínio
Os preços do alumínio declinaram 18% no terceiro trimestre, e estavam 1/3 mais baixos em setembro do que no pico de março. A demanda por alumínio esteve fortemente fraca, devido ao slowdown na atividade de manufatura global, incluindo as restrições relacionadas com a Covid-19 e ao fraco mercado da construção na China, além dos receios de uma recessão global, especialmente na Europa. No lado da oferta, a produção na Europa está caindo devido aos preços de energia mais altos, sendo que os produtores anunciaram cortes de cerca de 25% na capacidade total. A produção na China se manteve robusta, já que os cortes devido aos custos de energia anunciados no início do ano foram suplantados pela retomada de capacidade ociosa e comissionamento de novas fundições. No final de 2022, espera-se que a China esteja com 42 milhões t de capacidade em alumínio, próximo da meta do governo, de 45 milhões t. As sanções sobre as exportações de alumínio da Rússia tiveram um impacto menor do que o esperado. Seguindo um projetado aumento de 9% em 2022, os preços do alumínio devem cair 11% em 2023. Os riscos projetados incluem menor produção, devido ao racionamento de energia, especialmente na Europa. Pelo lado da política, a intenção anunciada pelos Estados Unidos, de impor sanções mais severas às exportações de alumínio da Rússia, podem levar a preços mais altos. Em longo prazo, a transição energética pode impulsionar o uso de alumínio, especialmente em veículos elétricos, energia solar e linhas de transmissão de longa distância.
Cobre
Os preços do cobre declinaram 19% no terceiro trimestre, e ficaram em torno de 25% a menos em setembro do que no pico de março. A demanda pelo metal esteve sujeita ao que aconteceu com os outros metais, incluindo baixo crescimento, especialmente na China. Uma vez que o cobre é particularmente sensível ao ritmo da atividade econômica global, os receios sobre a possibilidade de uma recessão global pesaram sobre os preços. Houve algumas restrições de oferta de cobre (por exemplo, no Chile e Peru) e reduzida produção – devido aos cortes de energia em algumas regiões na China que refinam o metal (incluindo Hubei, Anhui, Zhejiang e Jiangsu). No entanto, não tem havido corte em smelters da Europa, até agora, já que a fundição e refino de cobre tem uma intensidade de energia de menos que 1/5 do alumínio e metade do zinco, dois dos metais mais intensivos em energia. A expectativa é que os preços do cobre caiam 16% em 2023, seguindo um declínio estimado de 7% em 2022. Em longo prazo, espera-se que o cobre se beneficie da expansão da manufatura de EVs (que usa 2.5 a 4.0 vezes mais cobre do que os veículos a gasolina), geração de energia renovável (mais intensiva em cobre do que as plantas convencionais), bem como uso relacionado com os cabos de distribuição de energia e infraestrutura de recarga.
Chumbo
Os preços do chumbo caíram 10% no terceiro trimestre e ficaram 22% mais baixos, em setembro, do que do pico de abril de 2022. A demanda pelo metal tem sofrido reveses, devido à fraqueza da indústria de automóveis. O Chumbo é primariamente usado em baterias, das quais 1/3 são para veículos (e em sua maior parte para substituição de baterias usadas). A produção não esteve sujeita a disrupções como outros metais, já que o refino de chumbo é de baixa intensidade em energia e nem Rússia nem Ucrânia são grandes produtores. Os preços do metal devem cair 5% em 2022 e mais 10% em 2023. Em médio prazo, espera-se que a demanda por chumbo cresça, devido à produção estável de novos veículos, substituição de baterias usadas e utilização de baterias de chumbo em veículos elétricos para funções auxiliares.
Níquel
Os preços do níquel caíram 24% no terceiro trimestre e ficaram, em setembro, 1/3 abaixo das altas sem precedentes de março, que levaram à suspensão da comercialização na LME por uma semana. A declinante demanda da indústria de aço inoxidável e forte crescimento da produção na Indonésia contribuíram para a queda nos preços. A produção de aço inox, que responde por mais de 2/3 do uso de níquel refinado, caiu fortemente depois do pico de 2021, com a fraca demanda de bens de consumo duráveis, altos preços da energia e cortes no suprimento de energia. O uso de níquel em baterias também se reduziu, especialmente na China. A oferta de níquel, no entanto, cresceu consideravelmente, especialmente na Indonésia, que rapidamente expandiu sua produção de níquel pig iron em 2022. Espera-se que os preços do níquel caiam 16% em 2023. Em longo prazo, há o risco de que a demanda (e os preços) do níquel ceda, já que estão sendo desenvolvidas alternativas para baterias, tais como as Lithium-Iron-Phosphate (LPF), que têm dominado incrivelmente o mercado de veículos elétricos na China. Outros fabricantes de bateria estão explorando LFP e outras tecnologias, como a sódio-ion.
Estanho
Os preços do estanho mergulharem 35% no terceiro trimestre e ficaram 52% abaixo do pico de março, como reflexo da fraca demanda do setor de eletrônicos. A produção também aumentou consideravelmente, especialmente no primeiro semestre do ano, após o aumento das exportações por parte de pequenos produtores da Indonésia. Em resposta aos receios a respeito de um boom nas exportações de estanho e seus efeitos negativos nos preços, as autoridades da Indonésia estão adotando uma série de medidas para restringir exportações, incluindo a revogação de 300 licenças para lavra de estanho, considerando que o banimento das exportações encorajaria a adição de valor no processamento doméstico e o incremento nos royalties de exportação. Depois de um modesto declínio este ano, os preços do estanho devem cair 29% em 2023. Mas em longo prazo a demanda por estanho deve se manter, beneficiada pela transição energética e tecnologias verdes, particularmente painéis solares e veículos elétricos.
Zinco
Os preços do zinco caíram 16% no terceiro trimestre e ficaram quase 30% abaixo do pico de abril de 2022. A fraca demanda mais do que suplantou os cortes de produção. O slowdown na construção, que responde por 50% da demanda de zinco, pode resultar na contração da demanda global este ano. Os altos preços de energia e cortes no suprimento de carvão resultaram em cortes de produção em alguns smelters na Europa, enquanto o racionamento de energia na China também reduziu a produção. A demanda global deve crescer modestamente no próximo ano, devido aos planos de investimento anunciados recentemente. A oferta de minério deve aumentar nos próximos cinco anos, com incrementos na Austrália, China e Peru, mantendo o mercado bem abastecido. Os preços do zinco devem aumentar 17% em 2022 e cair cerca de 20% em 2023. Embora o zinco seja menos exposto à transição energética, ele pode se beneficiar das estruturas de galvanização geração eólica offshore e painéis solares de grande escala.