Fungicida a partir de nanopartículas do nióbio

04/04/2023
Fungicida totalmente brasileiro e atóxico, usa nanopartículas de nióbio em sua composição

 

Uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveram um fungicida totalmente brasileiro, atóxico e que apresenta características de bioestimulação. O produto usa nanopartículas de nióbio em sua composição “Quase todo fungicida usado no Brasil é importado, tem alto custo, além de ser um produto de origem química/sintética, que requer cuidados em sua utilização devido aos diferentes níveis de toxidez. Desenvolvemos uma molécula de nióbio inédita e encontramos uma alternativa de grande potencial para esses problemas”, explica o professor Luiz Carlos Oliveira, do Departamento de Química da UFMG.

O professor começou a estudar o uso de nanopartículas de nióbio em 2020 na agricultura para tentar sanar um problema enfrentado pelo agronegócio, especialmente pelo complexo de doenças fúngicas atualmente presente na cultura de soja. O fungicida criado pelos pesquisadores da UFMG é inorgânico, tem como base o nióbio e possui baixo impacto ambiental. Por ser atóxico, o fungicida não provoca irritação ocular, efeito comum nos defensivos agrícolas hoje comercializados.

Durante a primeira etapa da pesquisa (in vitro), o produto já mostrou resultados promissores. Na sequência, com os testes in vivo e, por último, no campo. Nesta etapa final, empresas especializadas avaliaram o produto em ambientes de testagens, onde a tecnologia enfrenta os desafios da vida real. Os primeiros testes estão sendo feitos em culturas de soja e têm confirmado os resultados apresentados nos laboratórios. Segundo Oliveira, os testes em campo constataram que a aplicação na nanoestrutura induziu a criação de uma espécie de nanopelícula protetora nas folhas da soja, que atua como barreira molecular fotoativa e propicia uma proteção física, além de interferir no processo respiratório do fungo, evitando a sua proliferação. Os estudos já foram realizados em culturas de sementes de milho, trigo e amendoim, e também mostraram que o fungicida parece atuar como solução pós-colheita, propiciando proteção eficaz de grãos e sementes que ficarão armazenadas.

Os testes comprovaram que a eficiência de inibição do fungo foi similar em todas as concentrações testadas, com resultados próximos aos 100% de inibição quando em concentrações mais altas. Nas culturas de ferrugem de café, os resultados foram ainda melhores quando comparados aos obtidos pelo produto-padrão, importado e mais usado em âmbito mundial. Nesse caso, a tecnologia da UFMG apresentou eficácia mais de duas vezes superior.

O engenheiro agrônomo Francisco Adriano de Souza, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo em Sete Lagoas, prevê boas expectativas para o novo produto desenvolvido pela UFMG. “Se os resultados apresentados até o momento pelos pesquisadores se confirmarem, e essa tecnologia passar pelo crivo de segurança ambiental e toxicológico, teremos um grande achado, a descoberta de uma nova classe de fungicidas”, afirma o pesquisador. Para Souza, o projeto precisa de investimento em pesquisas para que todos conheçam a forma como o produto age e os seus eventuais efeitos colaterais. “Essa descoberta pode contribuir para a segurança alimentar mundial”, prevê o pesquisador.

A efetividade da tecnologia em diferentes solos e climas está sendo testada em plantações de soja em cidades de Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Paraná. No estado do Sul, o fungicida também já está sendo testado em culturas de milho e de trigo.

A tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores da UFMG tem potencial para movimentar o mercado, que hoje é dominado por dez empresas globais. De acordo com o professor Luiz Carlos, o pedido de patente já foi protocolado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), e a tecnologia está licenciada para a Nanonib, startup com plataforma tecnológica, sediada no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), que desenvolve materiais avançados de nióbio para aplicações nas áreas de saúde, energia, cosméticos e para o agronegócio.

A nanopartícula de nióbio já é objeto de pesquisas na UFMG há mais de dez anos, com ênfase em tecnologias direcionadas aos cuidados com a saúde, sobretudo em materiais para a odontologia, cosméticos e energia renovável. Os estudos da UFMG com a nanopartícula já resultaram no depósito de 11 pedidos de patentes no INPI. Na pandemia, os estudos acabaram direcionados ao combate ao vírus Sars-CoV2, resultando em produto com ação antisséptica para as mãos que inativa o vírus instantaneamente.

Direto da Fonte