Como conciliar ESG e ODS na mineração

09/11/2022
No primeiro dia do evento, a partir das 14h, ocorreu o painel “Como conciliar ESG e ODS para desenvolver territórios sustentáveis na mineração”

 

Após dois anos sendo realizado no formato on-line, em razão da pandemia COVID-19, a 7ª edição do Mineração &X Comunidades voltou a ser presencial, e ocorre entre os dias 8 e 10 de novembro, na sede da Associação Médica de Minas Gerais (AAMG), em Belo Horizonte. O evento tem transmissão ao vivo pelo canal da Brasil Mineral no YouTube. 

No primeiro dia do evento, a partir das 14h, ocorreu o painel “Como conciliar ESG e ODS para desenvolver territórios sustentáveis na mineração”, com moderação de Rolf G. Fuchs, membro do Conselho Consultivo de Brasil Mineral e presidente da Integratio e como participantes Giovana Kill, Head de ESG da Galvani Fertilizantes, Thais Laguardia, diretora de Saúde, Segurança, Meio Ambiente, Gestão Social e Sustentabilidade da ERO Brasil, Marcelo Dutra, gerente-geral de Meio Ambiente e Relacionamento com Comunidades da BAMIN e Renato Ciminelli, diretor do Mercado Mineral. 

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Antes do debate houve uma apresentação de Dione Macêdo, coordenadora-geral do Departamento de Desenvolvimento Socioambiental na Mineração da SGM-MME. Na ocasião, Dione citou o projeto desenvolvido pela Mosaic Fertilizantes que trabalhou na capacitação para ampliação e melhoria das práticas sustentáveis com empresas parceiras, que teve como resultado a inclusão do tema sustentabilidade nas estratégias de negócios, melhoria na legislação vigente e de trabalhos de inclusão e diversidade. O segundo exemplo é o da Cooperativa COOGAMAI, de Ametista do Sul, que atuou na legalização dos garimpos da região, recuperação de áreas degradadas e diversificação da matriz econômica, com a integração de placas solares no garimpo e técnica de perfuração a úmido em parceria com a UFRGS. “O ESG e ODS estão intrinsicamente conectados na mineração, para orientar o setor nos investimentos, ações e projetos. Os ODS são bons para pessoas, organizações e instituições”, disse ela.  

Renato Ciminelli disse que os ODS representam mais territórios e comunidades, enquanto o ESG é mais empresarial. “Não conseguimos ter uma aproximação dessas duas dimensões, mas estamos cada vez mais próximos. O importante é que as partes têm trabalhado de forma mais sinérgica, com uma proximidade maior entre mineração e território. O ODS 17 significa cooperação e induz à colaboração, onde haja o relacionamento entre empresas e comunidades. Para Ciminelli, essa sinergia irá gerar maior economia, velocidade e contemplar as necessidades de ambos os lados (empresas, sociedade e territórios). “O problema do alinhamento de ter uma cultura para trabalhar ODS e ESG é que o Brasil não tem isso, principalmente no que se refere à Governança”. 

Na sequência Giovana Kill, da Galvani, disse acreditar que Governança é típica das empresas, mas é preciso saber como levar isso aos stakeholders? É um ponto relevante. Ele explicou que a Galvani trabalha com fosfatados, desde a mineração até a produção de fertilizantes, mas quando falamos do total, nós vemos vários territórios e como intervimos neles, diz Giovana. “Estamos revendo o ASG (A, de ambiente). Nós nos provocamos muito internamente e traçamos metas ESG, o que é muito valoroso. Temos bons investimentos sociais privados, como o Instituto Lina Galvani, onde cocriamos soluções para o território, como o parque Vila Cerrado, que existe há 16 anos e é reconhecido pelo IBAMA. “Questionamo-nos se bastava apenas ajudar na regeneração das florestas, se isto seria o suficiente. Para complementar, a Galvani decidiu trabalhar no Conecta Cerrado com o GEF para ajudar animais a serem reintrozudos na natureza. Outro projeto é o assentamento Rio das Ondas, que é um banco de sementes para gerar trabalho, emprego e renda aos produtores locais. Um dos grandes presentes de Minas Gerais foi um trabalho de negociação de conflitos na parte ambiental, com a participação do MPMG. O diálogo é necessário”. Diversidade e equidade foi outro ponto abordado por Giovana. Ela comentou que a Galvani elegeu algumas frentes para resolver problemas cotidianos, como a inclusão da mulher na empresa, pessoas com deficiência em um programa de parceria com o Instituto Lina Galvani. Para isto, a companhia teve que se adaptar aos funcionários PCDs. 

Thais Laguardia, da ERO Brasil, foi a terceira a falar e disse que ODS e ESG são intrínsecos, já que há um propósito entre eles, que é o sentimento humano que liga as duas vertentes. “ESG e ODS devem caminhar juntas, sendo complementares. Falta apenas entender outro prisma para implementarmos uma via de mão dupla com a comunidade. Temos que entender os nossos problemas para fazer as grandes diferenças”. É necessário entender a vocação de cada território, de forma genuína e ampla, considerando a vocação do local para ter continuidade. “Nós sabemos que o tempo na vida útil de uma mina, muda e para isso temos que ter estratégia ESG, com propósito e coração. São dois processos importantes para o mundo”. 

Por último, Marcelo Dultra, da BAMIN, comentou sobre a complexidade dos ODS e como a BAMIN trabalha com o ESG no complexo que integra, mina, ferrovia e porto na Bahia. “Nós temos condicionantes socioambientais linkadas às ODS, como a cooperativa que fomentamos e ajudamos a gerar investimento de R$ 500 milhões. Temos também programa de monitoramento de cetáceos e da própria biota do oceano Atlântico. O principal problema da mineração junto às comunidades é a falta de comunicação, pois o setor é muito reativo. Temos que mostrar o que fazemos de positivo”. 

Como é vista a estratégia de fazer ESG e ODS relacionado a resultados financeiros? Giovana respondeu dizendo que não vê de forma separada. “Estamos conversando com bancos e existe expectativa irreal de se ter o bônus sem obrigações. A Galvani trabalha com uma necessidade de rastreabilidade muito grande e os bancos cobram implementação de adesão aos Princípios do Equador, implementação de equidade e diversidade, para que a empresa contribua cada vez mais para a sociedade. Marcelo completou afirmando que fazer o certo é mais caro, já que o mercado de commodities é imprevisível e não se tem as benesses financeiras. “A BAMIN brigou dois anos internamente para aprovar um projeto de filtragem e empilhamento a seco para ter uma aceitação da comunidade e ter licença social para operar. Acredito que vale à pena cumprir os ODS e os ESG”. Ciminelli complementou dizendo ser necessário conciliar ODS e ESG pelas diferenças culturais dos atores existentes. “Temos que aproveitar o modismo do ESG e trazer experiências que fiquem no futuro”. 

Sobre os bônus para funcionários ligados às metas ESG os participantes da mesa responderam, em sua totalidade, que os bônus não estão atrelados apenas a metas financeiras, mas à participação e cumprimento de propósitos de ESG e ODS. As empresas têm que olhar para o profissional e se propor a ajudar os empregados a ter maior engajamento. Ciminelli encerrou a participação dizendo que a mineração está atrás do sinergismo entre ESG e ODS, mas não é o alinhamento da empresa fazer tudo. “Eu investiria muito em Governança, em sistemas complexos de multiculturas, em que se contempla Governança. Quem está no ODS quer tirar proveito do ESG”. Thais disse que a comunicação deveria ser intencional e direcionada frequentemente e por vários tipos de plataforma. “A forma de comunicação deve ser alterada e a mineração deve ter o objetivo de cocriar e não de coexistir”. Giovana disse que a Galvani trabalha para prosperar conjuntamente com a comunidade, tendo visão de prosperidade e diálogo enquanto as partes caminham. Já Marcelo fechou dizendo que a parte social está cada vez mais em franco desenvolvimento, e que é preciso empresas de consultorias sérias para atender às necessidades de cada comunidade. “É pensar e fazer junto”. 

Como está a reputação do setor mineral?

Na sequência, foi feita a apresentação da ‘Pesquisa de Reputação do Setor Mineral - IBRAM’, por Paulo Henrique Soares, diretor de Comunicação do IBRAM e Marcela Ferreira, Senior Director, Advisory (AMERICAS) da REPTRAK.

Paulo Henrique disse que o setor tem problemas não apenas de comunicação, mas de reputação e isto tem que ser tratado. “É um conjunto de atributos que levam as pessoas a perceber o que é o setor mineral. A reputação perdeu relevância para a sociedade após os acidentes das barragens de Mariana e Brumadinho”. 

Segundo Paulo Henrique, as questões financeiras são conhecidas por todos, mas o trabalho junto à sociedade, nem sempre. Dentre os fatores de maior peso na reputação do setor mineral estão a conduta (ética, responsabilidade e transparência); Segurança operacional; Aspectos ligados ao trato social (diálogo aberto e boas relações com as comunidades) e Uso responsável e recursos naturais. “Ser transparente é saber o que o outro quer e a comunicação pode ajudar neste caso”. 

Marcela comentou que o setor se relaciona com as comunidades em uma avaliação mediana e fraca, mas nunca forte. A pesquisa identificou que a comunicação precisa ser mais clara com a sociedade e comunidades. “Destaco a heterogeneidade do setor, com atores grandes e pequenos, com diferentes dificuldades de demanda e para atender aos territórios. Todos os atores devem diálogo no trato social e isso demonstra a necessidade de um investimento social”. Na questão da transparência, é questionado se os empregos gerados são temporários ou se os empregados serão realmente efetivados. Dentre os pontos que mais influenciam a reputação do setor mineral estão o impacto – previsível e mitigável – mas imprevisível e assustador para a comunidade. 

‘Como a mineração pode trabalhar sua reputação e se tornar uma atividade melhor aceita na sociedade?

Logo depois veio o painel ‘Como a mineração pode trabalhar sua reputação e se tornar uma atividade melhor aceita na sociedade?’, que teve a moderação de Francisco Alves, diretor editorial da revista Brasil Mineral e a participação do Dr. Carlos Eduardo Ferreira, promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Ana Luísa de Castro Almeida, professora da Fundação Dom Cabral, Cristiano Parreiras, assessor especial da presidência e do Conselho do Sindiextra e Luis Mauricio Azevedo, vice-presidente CNI/Comin. 

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Indagados sobre o que é necessário o setor fazer para melhorar o seu conceito perante a sociedade, Carlos Eduardo, do MPMG, apresentou a visão do Ministério Público sobre a reputação da mineração, sobretudo depois dos dois rompimentos das barragens de Fundão e Brumadinho. “Na minha visão, o setor se comunica mal, mas é preciso entender que a disseminação de informações e as demandas atuais são mais radicais, pois querem sempre uma resposta rápida”. 

Para o promotor, é complicado falar de reputação, seja de uma empresa ou de todo o setor. “O primeiro marco para o setor foi a lei Mar de Lama nunca Mais, que proíbe as barragens à montante e obriga a descaracterização das estruturas; assinatura do Termo de Compromisso com as auditorias independentes e, por último, outro TC para descaracterização das barragens. “O papel do MP ligado à reputação das empresas é trazido para o licenciamento ambiental. É bom saber o papel do MP, pois temos uma grande responsabilidade para garantir que os investimentos sejam feitos com máxima segurança. A atividade mineral sofre uma demonização”. Segundo Carlos Eduardo, uma reputação construída por décadas pode ser abalada por fatos diários e o meio ambiente é cada vez mais um tema ligado às internalidades institucionais. 

Na sequência, Luis Maurício, da CNI/Comin, comentou que o setor comunica mal, mas diante de tudo o que aconteceu na indústria mineral ficará a marca dos acidentes e isto provocou uma resistência. “Apesar das empresas terem melhorado, elas falharam e resgatar a reputação demandará resiliência. No Brasil, há diversas regiões e impactos distintos, por exemplo, em Minas existem os acidentes e no Amazonas o problema social”. 

Para Luís Maurício, é preciso entender que existe a percepção contrária e a imprensa adotou esta posição contra a mineração. O setor precisa mostrar o que pode fazer para cultivar as comunidades e levar os escritórios para onde está a mineração. Essa transição não irá ocorrer de novo, concluiu.

Ana Luísa, professora da Fundação Dom Cabral, disse que é crítica às mineradoras, apesar de trabalhar com elas, por acreditar que elas podem ser melhores no futuro. “Eu não vejo o setor mineral com uma boa reputação, mas as empresas têm uma simétrica de poder fortíssima, e os projetos sociais junto às comunidades são definidos de acordo com o que as empresas consideram e não o que as comunidades precisam. As comunidades vivem sem políticas públicas, que gerou insegurança alimentar, ausência de educação, violência doméstica. Quais projetos as mineradoras têm para estes problemas? Não é apenas dar benesses, ser paternal. Isso não muda a percepção da mineração”. 

Ana comentou ainda que a má comunicação do setor representa a ausência de investimentos no setor. “Enquanto as mineradoras não agirem de forma diferente, nada vai mudar. Para mudar, o setor precisa fazer uma reflexão para valer”. 

Cristiano Parreiras, do Sindiextra, comentou que tudo que não é plantado, é minerado. A mineração é uma atividade que traz uma série de benefícios e a reputação deve ser trabalhada com a agenda ESG/ODS para o setor se comunicar melhor com a sociedade. Há uma correlação direta da agenda para transformar a reputação. “É necessário trabalhar para entregar uma mineração cada vez mais sustentável – o setor já faz muito nas três áreas de ESG. Na área de meio ambiente é fundamental reduzir impacto ambiental, realizar a recuperação de material e de depósitos, eliminar as barragens, proteger o meio ambiente e fazer uso responsável dos recursos naturais, como reaproveitamento dos bens minerais, recirculação de água, entre outros. Parreiras disse também ser importante que o Social esteja atrelado à Governança da empresa, para mostrar a segurança com empregados, além de programas de diversidade e inclusão (não exclusão). “Há vários movimentos empresariais para mudar o ambiente de negócios. Eles são frutos da elevação da consciência coletiva da população que mostra um amadurecimento. Sobre Governança, há preocupações legítimas onde as empresas estão instaladas”. 

‘Fórum de Líderes - A Governança Social é um caminho sem volta

A última sessão do dia teve o Fórum de Líderes, que procurou responder à questão “A Governança Social é um caminho sem volta?’. Moderado por Ana Cunha, conselheira do IBRAM e diretora de Relações Governamentais & Responsabilidade Social da Kinross, o fórum teve como participantes Rodrigo Lopes, professor convidado da Fundação Dom Cabral, Wilfred Bruijn (Bill), presidente da Anglo American no Brasil, Paulo Castellari, CEO da Appian Capital Brazil, Adriana Alencar, vice-Presidente de Recursos Humanos da Mosaic Fertilizantes e Gilberto Azevedo, presidente e General Manager da Kinross Brasil Mineração. 

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Rodrigo Lopes, começou sua participação falando sobre pertencimento, no sentido de pertencer a algo, a uma comunidade diferente de todas as outras espécies. “A mineração é um exercício de fé. Qual futuro nós vamos construir”?, indagou. Por não fazer parte do setor mineral, o professor contou um caso: que certa vez estava próximo a uma comunidade e a janela começou a tremer, porém, todas e as pessoas continuaram a conversar normalmente. Após isso, tocou a sirene. “Foi muito impactante e não é difícil entender porque as comunidades vêem a mineração com ressalvas”. 

Bill, da Anglo American, comentou que o setor mineral tem uma diversidade muito grande e a Anglo American procura fazer o que é o melhor para a empresa e para os stakeholders. “Hoje em dia, a mineração tem tratado mais dos assuntos relacionados à preservação do nosso planeta, como descarbonização, e das comunidades, por meio de suas demandas, nem sempre gigantescas, mas genuínas. A comunidade tem sempre ouvido aberto para que nós possamos coabitar no território”, afirmou. 

Para Bill, a percepção da sociedade sobre a atividade mineral tem uma história, pois quando voltamos no tempo, o setor não tinha necessidade de se comunicar com a sociedade e a comunidade não tinha grandes demandas. “Eu conheço as vantagens da atividade mineral, mas temos que melhorar cada vez mais a reputação do setor, de forma honesta, através do diálogo, sobre os aspectos desconhecidos e os impactos que geram medos nas comunidades. Causamos um impacto. Essa relação tem que ser a melhor possível para gerar o menor impacto à comunidade”. 

Paulo Castellari, da Appian, disse que todos do setor da mineração são responsáveis pela Governança, pois o diagnóstico é uma total falta de interesse, de informação. “A movimentação da informação é muito lenta e perversa. Temos que pensar o que fazemos nos momentos bons da mineração. Qual o investimento em comunicação? 

Adriana, da Mosaic, disse acreditar em um propósito pessoal, do setor, envolvendo empresas e comunidades para se estabelecer relações e pensar em um futuro para todos. “É necessário confiança para se começar qualquer projeto e enxergar a importância do “e” e não do “ou”. Como podemos ter trabalho, atividade  e gerar renda, emprego, para um futuro melhor”. Para ela, a transparência e comunicação são fundamentais para o contato entre as partes. A relação com comunidade é no sentido de oferecer coisas básicas e o legado que se deixa no território. “Precisamos de processos e programas para que não existam fronteiras entre as empresas e comunidades, pois abre a visão para uma atuação mais responsável. 

Gilberto Azevedo, da Kinross, vê o ESG como um esforço da sociedade para colocar processos claros que permitam esse esforço coletivo. “Para que consigamos atuar coletivamente, é preciso um mínimo de governança. Na Governança, a mineração é só mais um ator que sofre a cobrança da sociedade e poder público. Nós devemos nos associar as demais entidades para atuar junto ao poder público, já que ele tem a capacidade de criar um ambiente de cooperação e construção”. Segundo Gilberto, deve haver equilíbrio: é preciso ser reconhecido pelos impactos e benefícios provocados pela mineração, acrescentando que o setor ainda tem dificuldades de ajustar as expectativas. “E isto pode gerar o fracasso, iludir o outro. É a única forma de nós conseguirmos avançar”. 

A 7ª edição do Mineração&XComunidades é uma realização da revista Brasil Mineral e tem patrocínio Ouro da Kinross, CBA, Appian Capital Brazil, BAMIN e ERO Brasil, patrocínio Prata da Largo, Bemisa, Anglo American e Hochschild e patrocínio Bronze, da Buritirama Mineração, Galvani, Aura e Potássio do Brasil, além da coordenação técnica e apoio da Integratio.