A Cruz de Malta nas Montanhas de Minas

05/04/2022
A implantação da Companhia do Gandarela no município de Rio Acima é pouco lembrada ou conhecida.

 

O médico e escritor Jorge Nahas está lançando o livro ‘A Cruz de Malta nas Montanhas de Minas’, que conta a saga do industrial Henrique Lage, dono do maior império empresarial brasileiro da primeira metade do século XX, que sonhou criar um grande polo metalúrgico na Serra do Gandarela. “Este trabalho é uma contribuição à reconstrução do passado de Minas Gerais e da minha cidade natal, quase perdido. Neste sentido, tem pretensão de história. É uma tentativa de dar alguma unidade às lembranças da infância, esta sim perdida. Neste outro sentido, é trabalho de memorialista. Perdoem a ambiguidade”, diz Nahas. 

O personagem da história, Henrique Lage, é um empresário carioca visionário, que por meio do investimento no trinômio - carvão, ferro e navios”, contribuiu significativamente para com o desenvolvimento industrial do Brasil. Dos seus inúmeros empreendimentos, resta o Parque Lage, tombado pelo IPHAN e localizado aos pés do Corcovado, um dos cartões-postais do Rio de Janeiro. A Cruz de Malta constituía o símbolo maior da Organização Lage, da qual ele era o principal acionista. A insígnia podia ser vista de Norte a Sul da costa brasileira nas chaminés dos navios luxuosos ITA, nas indústrias salineiras, nas minas de carvão em Santa Catarina, nas ferrovias, nos estaleiros, nos documentos das seguradoras, imobiliárias, bancos e dos portos pertencentes ao império Lage. E, posteriormente, também no alto-forno da Usina Gandarela, em Rio Acima.

A implantação da Companhia do Gandarela no município de Rio Acima é pouco lembrada ou conhecida. Claude-Henri Gorceix, lendário fundador da Escola de Minas de Ouro Preto e seu aluno Pandiá Calógeras atestaram, com trabalhos in loco, a riqueza da Fazenda Gandarela e seus arredores, formada por mármore, rica canga de minério de ferro, manganês e linhito, um tipo de carvão mineral. Em 1919, Henrique Lage e alguns sócios decidiram comprar a velha Companhia Exploradora do Gandarela - registrada em Ouro Preto em 1980 – e transferiu sua sede para o Rio de Janeiro, fundando a nova Companhia de Mineração e Siderurgia do Gandarela, que funcionou de 1930 a 1960 em Rio Acima.

Para o prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, que faz a apresentação da obra, “uma arqueologia da memória merecia disposição singular de trabalho. A essa operação de resgate propôs-se o estudo investigativo de Jorge Nahas, do qual resulta um livro que se lê com atenção e curiosidade”. Jorge Nahas realizou pesquisas documentais, elaboração de texto, entrevistas, visitas aos locais onde funcionou a Usina e suas lavras para a criação do livro. Todo este trabalho durou cerca de três anos. Segundo o próprio autor, “a memória deste sonho grandioso e desta aventura no coração então inóspito das Minas perdeu-se quase completamente”. “Não há menção da Usina do Gandarela nos relatos sobre as fábricas de ferro no Estado e até mesmo na pequena Rio Acima, tão marcada pela Usina, a lembrança da Companhia está soterrada pelas mais recentes das suas sucessoras: a MBR e a Vale, puras empresas exportadoras de minério de ferro da Serra”, completa.

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