Planta pode combater contaminação do rio Doce

08/07/2022
O rio Doce foi drasticamente atingido pelo rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), em novembro de 2015. 

 

Segundo estudo desenvolvido na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e publicado no Journal of Cleaner Production, a espécie de planta aquática Taboa (Typha domingensis) – encontrada na região do estuário do rio Doce – aumenta o potencial de fitorremediação do manganês em até 2.000%. O rio Doce foi drasticamente atingido pelo rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), em novembro de 2015. 

A autora do estudo, a engenheira agrônoma Amanda Duim Ferreira, diz que as novas informações podem direcionar políticas públicas na região. “A planta já está crescendo espontaneamente sobre os rejeitos lá no estuário e os dados desse artigo mostram esse potencial natural. O que podemos fazer para aumentar esse potencial é aplicar técnicas de manejo, como as já utilizadas em plantas comerciais (adubação, densidade de plantio, época de colheita) para aumentar a produção de biomassa, o que potencializará o processo de remediação”.

O manganês é um elemento abundante na natureza e, muitas vezes, não é percebido como tóxico, mesmo quando encontrado em elevadas concentrações no solo e na água. Os pesquisadores comentam que não existem valores limites de manganês para solos, apesar de pesquisas apontarem efeitos tóxicos em plantas, animais e seres humanos. Em seres humanos, as elevadas concentrações de manganês são associadas a doenças como o Alzheimer, além de outros distúrbios neurodegenerativos e do sistema nervoso central.

Outro estudo da Esalq publicado em 2021 e denominado ‘Manganês: o contaminante negligenciado no maior colapso da barragem de rejeitos de mina do mundo’ mostra que as altas concentrações de manganês em água se refletiram em altos teores de manganês em duas espécies de peixes, o bagre amarelo (Cathoropus spixii) e o peixe-gato marinho (Genidens genidens), ambos consumidos pela população local, o que representa um risco crônico para a saúde das comunidades ali presentes. 

Além de Amanda, o estudo conta com outros pesquisadores envolvidos no desenvolvimento do projeto. O Grupo de Estudo e Pesquisa em Geoquímica de Solos da Esalq tem coordenação de Tiago Osório Ferreira, professor do Departamento de Ciência do Solo. A pesquisa tem financiamento da FAPESP, FAPES, CAPES e CNPq, além da colaboração de pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo, Universidade Federal Fluminense e da Universidade de Santiago Compostela, da Espanha. O estudo completo pode ser acessado no https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0959652622024064?via%3Dihub.