"Acredito muito que o que estamos fazendo tem longevidade, porque é algo sustentável. Nós temos boas operações, bons profissionais e construímos boa relação baseada no diálogo com as comunidades que nos hospedam. Nós temos solidez financeira, temos um bom plano de longo prazo no sentido de investimentos, os quais podem trazer a competitividade em longo prazo para nós". É assim que o presidente-sênior Latam da AngloGold Ashanti, Marcelo Pereira, vê o futuro da empresa, que dentro de uma década estará completando dois séculos de atividade no Brasil, mais especificamente em Minas Gerais.
Ele, que está no comando da AngloGold Ashanti na América Latina há cerca de um ano e meio, atribui o sucesso da empresa até aqui, principalmente no período mais recente, às pessoas.
A empresa tem um time muito forte tecnicamente, que está atuando "na mesma direção, que trabalha e que tem muito respeito um ao outro, que tem uma visão muito clara com relação a um bom clima organizacional, não só no nível de dirigente, mas em todos os níveis da companhia", afirma.
Ele explica que a empresa está com um forte programa de investimentos, de quase R$ 1,1 bilhão, dos quais uma fatia importante está direcionada à sustentabilidade, em itens como descaracterização de barragens, novos usos para os rejeitos, eletrificação de frota, automação, segurança das pessoas e pesquisa visando ampliar a vida útil de suas operações, principalmente no seu principal ativo no Brasil hoje, a mina de Cuiabá, onde a operação pode se prolongar até pelo menos 2048.
O executivo da AngloGold afirma que a empresa tem "muito orgulho de estar há 190 anos no Brasil, de iniciar as nossas operações em Minas Gerais, que é um estado que nos acolhe desde então e de forma tão positiva. Entendo que, junto com esse orgulho, vem a nossa necessidade e o interesse genuíno de continuar e dar longevidade, com sustentabilidade, às nossas operações. Da mesma forma que temos feito, com muito respeito, com muito diálogo, com muita atenção a todos os avanços tecnológicos que tragam para nós oportunidades de minimizar ao máximo os nossos impactos e maximizar as contribuições que fazemos". Confira a entrevista na íntegra.
BRASIL MINERAL — Do ponto de vista macro, como você vê a AngloGold daqui a 10 anos, quando ela completar 200 anos de Brasil?
MARCELO PEREIRA — Primeiro, acho que a nossa visão de futuro é muito positiva. Nós somos uma empresa com valores importantes e muito alinhados às melhores práticas do mercado com relação ao cumprimento das suas obrigações, mas vamos mais além na construção do que chamamos de valor compartilhado, ou benefício compartilhado, não só olhando para a nossa empresa mas pensando também nas diferentes partes interessadas com as quais nós temos relações. Inclusive algumas que talvez indiretamente nós impactamos, mas que não têm uma relação direta conosco. Isso posto, acredito muito que o que estamos fazendo tem longevidade, porque é algo sustentável. Nós temos boas operações, bons profissionais e construímos boa relação baseada no diálogo com as comunidades que nos hospedam. Nós temos solidez financeira, temos um bom plano de longo prazo no sentido de investimentos, os quais podem trazer a competitividade em longo prazo para nós. Então, eu enxergo que, assim como viemos há 190 anos operando neste país e sendo uma instituição forte, nós continuaremos nos próximos anos.
BRASIL MINERAL — Considerando que você está à frente da companhia há um ano e meio, que principais mudanças estão sendo implementadas que levam a essa certeza de futuro promissor, que vai perenizar o que vem sendo feito há 190 anos?
MARCELO PEREIRA — Estou muito contente com o momento que nós estamos vivenciando e muito orgulhoso por estar aqui. Nós estamos com entregas bastante expressivas e sólidas, as quais evidenciam e expressam muito claramente o esforço que nós temos feito para a melhoria dos nossos resultados e da solidez da companhia. Quando enxergamos, por exemplo, resultados como 42% de redução, no primeiro semestre deste ano, em comparação com o primeiro semestre do ano passado, do número de acidentes; quando vemos que desde julho, nós estamos trabalhando de forma muito positiva, com zero eventos reportáveis de comunidade ou ambientais; quando tivemos um crescimento de 10% na produção, saltando de 234 mil onças para 257 mil onças; quando vimos nosso resultado financeiro saindo de saldo negativo, ou seja, uma saída de caixa de 127 milhões de dólares e passar a ter um resultado positivo de 147 milhões de dólares em um semestre, ou seja, 276 milhões de dólares, melhor resultado em comparação com o mesmo período, entendo que nós estamos no caminho certo e que as diversas ações que estamos implementando nos indicam que estamos na direção e no caminho corretos.
Das ações importantes que fizemos, a primeira delas é o foco nas pessoas. Assim que cheguei na AngloGold Ashanti, iniciei um processo de reestruturação organizacional da companhia, onde diversas movimentações ocorreram e um time muito capacitado e forte foi montado. E não só um time muito forte tecnicamente, mas também sob o ponto de vista de experiências pregressas de cada dos seus membros, um time forte no sentido da união dessa equipe. Então, é um time que foca e está atuando na mesma direção, que trabalha e que tem muito respeito um ao outro, que tem uma visão muito clara com relação a um bom clima organizacional, não só no nível de dirigente, mas em todos os níveis da companhia. Nós usamos muito a expressão, uma palavra que para mim é muito forte, que é colaboração, a qual, inclusive, é um valor da nossa empresa. E isso é o que reina em nosso negócio. Eu não quero que tenhamos heróis aqui. Não precisamos de super-homem, nem de nenhum tipo de herói, de X-Man, ou coisa parecida. Precisamos de bons profissionais que estão engajados em fazer o trabalho que definimos, importante de ser feito, para a transformação dessa companhia e a sustentabilidade dela no longo prazo.
O segundo ponto que trabalhamos muito fortemente foram nossos processos, que não estavam completamente sólidos. Tínhamos uma oportunidade de melhoria, absolutamente importante, nos nossos processos, mais relacionados a conceitos básicos de mineração. É importante, e é algo que falo muito com o meu time: ser brilhante no simples, fazer o básico bem feito. Então nós focamos muito fortemente nisso, em garantir que os conceitos básicos de mineração fossem bem praticados e isso trouxe oportunidades absolutamente significativas. Quando olhamos as nossas taxas de processamento e os nossos resultados com relação ao aproveitamento de lavra, ou seja, da performance da mina subterrânea, das minas a céu aberto que nós temos, quando enxergo as nossas recuperações, por exemplo, comparado com a performance que nós tivemos no último semestre com os mesmos semestres de 2023, digo que temos um crescimento absolutamente expressivo. Estamos falando de mais de três pontos percentuais de ganhos de recuperação. Isso não é simples de ser feito. Então, isso mostra o quão capaz é o nosso time.
Uma outra questão importante, que não posso deixar também de comentar, é que nós temos trabalhado de forma bastante séria no conceito de ter uma rigorosa disciplina financeira e uma apropriação de recursos adequada. Então, o mapeamento completo de todos os nossos gastos e despesas foi feito, assim como a re-priorização completa de alocação dos nossos recursos no sentido de quais projetos deveríamos perseguir. Nesse sentido, destaco que nós não deixaremos, como não temos deixado, de fazer os investimentos que são necessários para a longevidade do nosso negócio e para a sustentabilidade dele. Um exemplo são os investimentos que nós temos que fazer nas barragens, os que nós devemos fazer para atendimento aos requisitos legais, os investimentos que devemos fazer para desenvolvimento tecnológico e melhoria da capacidade que nós temos de performar cada vez melhor e com menor impacto ao meio ambiente. Então, esses são recursos que redirecionamos. Nós re-priorizamos algumas carteiras, tiramos alguns investimentos de algumas áreas que entendemos não ser benefício direto dentro dos planos que nós, juntamente com a alta administração da companhia, montamos. E como resultado disso, como eu disse, temos tido resultados bastante expressivos, os quais me deixam muito feliz. E não tenho a menor dúvida que é fruto do trabalho de um time, e não necessariamente da minha chegada.
Veja a entrevista completa na edição 442 de Brasil Mineral