Jeito Nexa gera economias de US$ 209 milhões

22/02/2022
Na entrevista exclusiva a seguir, Rodrigo Menck comenta os bons resultados obtidos pela Nexa Resources em 2021.

 

O programa Jeito Nexa foi um dos fatores que contribuíram decisivamente para o bom desempenho da Nexa Resources em 2021, quando a companhia alcançou um Ebitda recorde de US$ 704 milhões. De acordo com Rodrigo Menck, vice-presidente executivo de Finanças, desde 2019, quando teve início, o programa capturou cerca de US$ 209 milhões em termos de Ebitda adicional, como reflexo dos ganhos de eficiência e produtividade da companhia. "Isto permite nos beneficiarmos dos preços mais altos, mantendo uma estrutura de custos baixa, pois estamos bem colocados na curva de custos em todas as minas", disse o executivo, o que contribuiu para que a empresa mantivesse boa rentabilidade mesmo em um ano no qual foram feitos muitos investimentos em seu ativo mais importante hoje, que é o projeto Aripuanã. 

Basicamente, o foco do Jeito Nexa é "fazer mais com menos", ou seja, maior produção e menor gasto de material, permitindo, inclusive, compensar as pressões inflacionárias que a indústria tem sofrido nos últimos anos. "Mas o principal é a mudança cultural, de olhar para a própria atividade com olhos críticos e construtivos". 

Na entrevista exclusiva a seguir, Rodrigo Menck comenta os bons resultados obtidos pela Nexa Resources em 2021, a contribuição dos dois países onde a empresa mantém produção – Peru e Brasil, as razões de novo aumento no Capex do projeto Aripuanã, as perspectivas para 2022 e porque a empresa desistiu do projeto que mantinha em Caçapava do Sul (RS).  

BRASIL MINERAL – Além dos preços, que outros fatores contribuíram para os bons resultados da empresa em 2021?

RODRIGO MENCK – Um fator importante foi o projeto Jeito Nexa, um programa de busca de eficiência que começamos em 2019 e do qual, ao longo do tempo, fomos informando ao mercado quais eram as capturas obtidas. Após três anos de programa, podemos dizer que capturamos algo ao redor de US$ 209 milhões de Ebitda adicional ao que tínhamos ao nível estrutural, em 2018, como resultado de ganhos de eficiência e produtividade na companhia. Isto permite nos beneficiarmos nos momentos de preços mais altos, já que mantemos uma estrutura de custos muito baixa. Estamos muito bem colocados na curva de custos em todas as minas – cada uma com suas características específicas – e a estrutura de custos nos permite manter a rentabilidade num ano em que houve muito investimento em nosso ativo importante, que é Aripuanã e que num horizonte de tempo breve vai ser mais uma mina de classe mundial, contribuindo também para a geração de caixa e rentabilidade. 

BRASIL MINERAL – Quais foram as Iniciativas do Jeito Nexa mais relevantes?

RODRIGO – Esse é um programa amplo, com várias iniciativas e que passa a ser uma mudança cultural, de sempre se ter um questionamento a respeito de como fazer as coisas, tentando fazer mais com menos, tornar as questões físicas de produção mais eficientes, com produções mais altas e gasto menor de material. Isso fez com que, inclusive, conseguíssemos compensar, de certa forma, pressões inflacionárias que a indústria tem sofrido nos últimos tempos. O programa tem também a parte mais subjetiva, de geração de caixa, redução de necessidade de investimentos, mudança de metodologia de manutenção, menor desgaste de equipamentos. Há uma série de itens que foram desenvolvidos ao longo dos últimos três anos, mas o principal é essa mudança cultural, de olhar para a própria atividade com olhos críticos e construtivos. 

BRASIL MINERAL – Qual foi a contribuição de Brasil e Peru nos resultados?

RODRIGO – Atualmente, na geração de caixa, o Peru responde por aproximadamente 2/3 e o Brasil 1/3, até por características diferentes. No Peru há mais minas, que têm uma geração de caixa um pouco diferenciada. Cerro Lindo, por exemplo, tem uma produção robusta de cobre, que faz com o custo médio seja menor e, portanto, a rentabilização do zinco seja maior. No Brasil,  as operações também são rentáveis, porém com características diferentes, porque tem um sistema mina-smelter consolidado, e o custo corporativo está basicamente alocado no Brasil. Essa divisão deve ficar um pouco mais equilibrada em 50/50 quando Aripuanã estiver operando em sua capacidade total. 

BRASIL MINERAL – Quais foram as razões dos aumento de Capex em Aripuanã?

RODRIGO – podemos colocar principalmente em três pontos: um deles é a questão da Covid-19, já que de certa forma, no começo de 2021, depois de um ano de crise, imaginávamos que poderia haver um declínio no número de casos ao longo do ano. Mas o que vimos foram as novas variantes, que trouxeram um desafio grande nos protocolos, na disponibilização das equipes das contratadas. Houve um turn-over grande no final do ano, e a questão das chuvas mais intensas nos últimos seis meses. E foram chuvas seculares, com um volume de água muito grande, o que impacta no trabalho. O turn-over é algo natural em um empreendimento que está a dois mil e quinhentos quilômetros da costa, longe de tudo. 

BRASIL MINERAL – O fator inflação também pesou?

RODRIGO – O fator inflação traz um impacto, mas não especificamente em Aripuanã, na implementação, porque a maior parte disso está contratado, com indexadores de correção contratual já previamente definidos no orçamento. A inflação pega mais todo o resto. A questão inflacionária atinge o setor de mineração como um todo. Há alguns setores específicos, como locação de equipamento para fazer perfuração, na exploração mineral, cujos preços subiram muito no Brasil. Há serviços em que os preços subiram mais de 30%. 

No caso específico do projeto Aripuanã, isto já estava na sua maior parte previsto, mas nas operações como um todo no mundo houve um impacto inflacionário, sim. Há casos no setor em que a inflação em dólar pode variar de 5 a 10%. Mas também não tínhamos visto a inflação americana passar de 5% há muitas décadas. 

BRASIL MINERAL – Do Capex previsto para 2022, a maior parte é para Aripuanã?

RODRIGO – Não. Dos US$ 385 milhões previstos, temos US$ 59 milhões para  Aripuanã, na parte de implementação. Estamos finalizando o projeto e o ramp up começa por volta do início do terceiro trimestre.

O resto do Capex é para manutenção. Esse valor, no passado, girava ao redor de US$ 250 milhões. Como teremos Aripuanã, um ativo a mais, o Capex de manutenção deve transitar entre US$ 300 milhões e US$ 330 milhões. Está muito adequado ao que temos agora de investimentos olhando pra frente. Temos planta com parada programada, nesse Capex tem também uma parte de desenvolvimento das minas, para futuras explorações

BRASIL MINERAL  – Por que a Nexa desistiu do projeto Caçapava do Sul?

RODRIGO – O projeto não tinha a escala que buscamos. Quando começou, lá atrás, ele tinha um potencial de escala maior. Porém se revelou um projeto mais de chumbo que de zinco e cobre. Não é um metal core para nós mas sim um coproduto na exploração de outros. Mina de polimetálicos. Não viabiliza um investimento tão robusto. Então saiu das prioridades.   

 

BRASIL MINERAL – Quais são hoje os principais mercados da Nexa em termos de receita?

RODRIGO – O mercado brasileiro é muito forte e uma parcela muito grande de nossa produção no Brasil fica por aqui. Uma parte dessa produção é exportada indiretamente, através do produto que mais usa o zinco, que é o aço galvanizado, a nossa base é o Brasil. Temos uma presença muito forte na América Latina como um todo e no sul do México. A América do Sul responde por aproximadamente 50-55% das nossas vendas e há uma parcela importante, que está em crescimento, nos Estados Unidos, entre 10 e 15%. Na Europa, também estamos com 10 a 15%. E o remanescente vai para a África e Ásia. Mas nosso forte é América Latina, até porque somos os únicos smelters na região. 

BRASIL MINERAL – E em termos de segmentos de consumo do zinco?

RODRIGO – O segmento mais forte é infraestrutura, que responde por aproximadamente 60%. O automotivo responde por mais ou menos 20% e há também a parte de ferramentaria e outros moldes, em que se usa o zinco no processo de fabricação. Porém, o mais forte é mesmo infraestrutura. Tanto que, quando a Covid-19 pegou em cheio, paralisaram-se as atividades, os investimentos, e os preços de todos os não-ferrosos caíram bastante. 

BRASIL MINERAL – Você vê as perspectivas para o setor como positivas?

RODRIGO – Sim. Não só pela questão da demanda no mundo, que influencia o preço spot do metal, mas também por outros motivos. Na verdade, quando se tem inverno rigoroso na Europa e China, como agora, e tem a crise energética, precisa fazer escolhas e alguns smelters foram fechados, tanto na Europa quanto na China. Como resultado houve um aumento de preços, que parece estar se sustentando neste primeiro trimestre de 2022. A previsão é de que, quando o inverno acabar, alguns smelters voltem e o preço caia um pouco. Mas de toda forma a perspectiva é positiva, se compararmos com os preços que estavam sendo previstos na metade de 2021. O mercado é de aproximadamente 14 milhões de toneladas por ano, então qualquer impacto que se tenha, seja em fornecimento de concentrado pela mina ou capacidade de processamento no smelter, vai mudar um pouco o preço, que é bem sensível. Então estamos com essa perspectiva positiva no horizonte mais próximo.