Investimento em lítio faz AMG pensar grande

06/11/2023
Com nove unidades pelo mundo, o resultado estimado de US$ 350 milhões do grupo vem sendo puxado pelo Brasil, que deverá responder por cerca de US$ 250 milhões.

Mara Fornari

Em 2019, um ano depois de ter iniciado o Projeto Lítio Brasil, a AMG Brasil recebeu dos leitores da revista Brasil Mineral seu primeiro prêmio de “Empresa do Ano do Setor Mineral”. Quatro anos depois, a companhia volta a ser destaque nesta premiação, desta vez com um sentimento de “pertencimento”, diz Fabiano José Costa, CEO da AMG.

“Na primeira vez foi uma honra muito grande receber o prêmio da Brasil Mineral. Mas, neste ano, quando fomos indicados, algo me dizia que iríamos ganhar nesta categoria Crescimento”, prossegue Fabiano, usando para justificar sua certeza o parâmetro financeiro: “em 2019 a AMG Brasil havia tido o melhor resultado EBITDA de sua história, algo entre US$ 16/18 milhões, praticamente o dobro da média de US$ 9 milhões registrada nos nove anos anteriores. Ou seja, um resultado extraordinário”.

Mas, em 2021, durante a pandemia – e não necessariamente por conta dela –, o mercado de lítio enfrentou um ano muito difícil, época em que a companhia se preparava para mudar sua história, baseada desde 1945 na concentração e produção dos minerais mais densos do pegmatito, como a cassiterita e a tantalita. “Durante muito tempo, a mineração de tântalo foi uma das principais atividades da AMG no Campo das Vertentes, mas nem por isto perdemos de vista o nosso compromisso com a maximização dos recursos minerais e a redução dos resíduos. Então, começamos a investir em iniciativas que viabilizassem novas aplicações industriais para o rejeito proveniente da atividade com o tântalo”, explica Fabiano.

Ele conta que em 2018, quando a AMG começou a aproveitar os rejeitos dos minerais mais densos, havia a perspectiva de mudança do core business da empresa. "Mas, por uma infeliz coincidência, o mercado de lítio entrou em colapso em 2020, ao menos do ponto de vista de preço. De acordo com o executivo, vários dos empreendimentos que visavam corrigir o binômio demanda versus oferta entraram em operação ao mesmo tempo e, nessa época, a China (principal consumidora deste minério) deixou de incentivar a produção de veículos elétricos por um determinado período, o que implicou na queda do preço do lítio, “de forma surpreendente e incompreensível”.

Sendo assim, em 2020 o faturamento da AMG retornou para a média histórica de US$ 9/10 milhões. Em 2021 o mercado voltou a se estabilizar e, mais uma vez, a empresa retomou ao patamar de dois dígitos de EBITDA, alcançando o valor de US$ 26 milhões – “até então o melhor ano da empresa no Brasil”. Isso explica o “senso de pertencimento” e o favoritismo citados por Fabiano no início desta conversa: “esse ‘vento contrário’ veio para nos levar para a frente. O resultado passou de US$ 26 milhões para US$ 230 milhões em 2022, um crescimento de quase 10 vezes. E seguimos nesse ritmo”.

Com nove unidades operacionais pelo mundo, o resultado estimado de US$ 350 milhões do grupo holandês AMG Critical Materials para 2023 vem sendo puxado pelo Brasil, que deverá responder por cerca de US$ 250 milhões, fruto do trabalho realizado nos municípios mineiros de Nazareno e São Tiago.

O parâmetro financeiro é apenas uma das referências que justificam o crescimento da AMG. Outros tantos se somam a esta performance invejável, como segurança – “já são 1.000 dias sem acidentes com afastamento na mina” –, saúde ocupacional e responsabilidade ambiental, áreas onde a empresa busca “fazer sempre melhor que no dia anterior”. Nos parâmetros operacionais e de processos, a AMG trabalha superando o que havia sido projetado inicialmente para a planta de lítio e para os negócios que passaram a ser secundários (produção de tântalo, feldspato e cassiterita). A melhoria contínua está no DNA da AMG e faz parte da rotina da empresa – “é preciso empregar esforços o tempo inteiro para chegar e se manter no topo”.

No período em que a empresa “sofreu um pouco com o mercado”, Fabiano poderia até usar a pandemia como justificativa, mas não foi isso. O resultado menor, em seu entendimento, foi uma manobra “saudável” do negócio de lítio que houve pelo mercado chinês. “É natural que exista esse tipo de manobra”, diz o CEO da AMG, explicando que muita gente nova estava entrando no mercado de lítio e era preciso selecionar “os fornecedores de verdade”.

Na prática, até 2015 existia basicamente um produtor de lítio a partir de rocha primária e outros a partir dos salares (especialmente no oeste da América do Sul). Havia um produtor de rocha primária que produzia lítio na forma de concentrado de espodumênio. Nessa ocasião houve uma invasão do mercado, com várias empresas pequenas da África e da Austrália. Era preciso selecionar quem daria conta dos momentos de volatilidade do mercado.

Veja a matéria completa na edição 434 de Brasil Mineral