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Governança social e aprendizados com a pandemia

11/08/2021
No primeiro dia, ocorreu a palestra "Sessão ESG  - Governança Social", com Adriana Solé, e o Painel "Os aprendizados com a pandemia sob a ótica social”.

 

A 6ª edição do Mineração&XComunidades está acontecendo pelo segundo ano consecutivo no formato online, em razão da pandemia COVID-19. No primeiro dia do evento, realizado em 10 de agosto, ocorreu a palestra Sessão ESG  - Governança Social, com Adriana Solé, Conselheira de Administração da SC Gás, e o Painel ‘Os aprendizados com a pandemia sob a ótica social”, que teve como participantes Paulo Misk (presidente do SINDIMIBA  - Sindicato das Empresas de Mineração da Bahia e CEO e presidente da Largo Resources Ltd. e Vanádio de Maracás S.A., Silvio Lima, Diretor de Assuntos Corporativos, Pessoais e SSMA da Appian Capital Brazil, Manoel Valério de Brito, Diretor-Presidente da Mineração Caraíba S/A e Diretor Executivo de Operações da Ero Copper Corporation e Felipe Guardiano, Vice-Presidente de Sustentabilidade, Gestão, Planejamento Estratégico e Relações Instituições da Nexa Resources. O painel teve a moderação do  professor Giorgio de Tomi (NAP Mineração, Poli/USP). 

O evento começou com a palestra de Adriana Solé, que ressaltou a importância da Governança, que abrange valores irrecusáveis pela sociedade global, que inclui os 17 ODS da ONU. Adriana comentou que a partir de 2009, os governos passaram a ter mais contato com a sociedade civil e ONGs, que é a chamada governança centrada na sociedade civil. “A pandemia simplesmente bagunçou todos os tipos de governança e criou a transversalidade entre elas, pois aumentou o grau de resiliência da sociedade, ao mesmo tempo em que o vírus da COVID-19 não escolhe vítima e tivemos que manter a integridade física, mental e social. Diferente de outras pandemias, em que se separavam os doentes, a pandemia COVID-19 nos ensinou a acolher os mais idosos e aprender um novo conceito de humanidade, com valores como proteção, humanidade, entre outros, mas todos ligados à mineração”. 

“No ASG Ambiental, o ‘G’ e o ‘S’ indicam a Governança e o Social que dizem respeito ao território onde a companhia atua e sua relação com a comunidade, visando harmonizar todos os conflitos existentes. Além disso, a mineradora é responsável por ter rentabilidade e garantir a inclusão e sustentabilidade hoje em dia. “Isto mudou completamente a visão dos investidores institucionais e é preciso ter projetos sociais estruturados, permanentes e transformadores, porém fiscalizados”. 

Segundo Adriana, os investimentos em ESG cresceram rapidamente na última década, alcançando a marca global de US$ 17,5 trilhões, enquanto o aporte comercializado em produtos ESG ultrapassa US$ 1 trilhão. “O direcionador estratégico do ESG tem crescente influência na sociedade atual de valores sociais na direção dos riscos da mudança climática, padrões de conduta empresarial responsável, diversidade no local de trabalho e Conselhos; Investimentos ESG atraem investimentos do setor público, por meio dos Bancos Centrais que privilegiam  sistemas financeiros na direção de economias mais verdes e de baixo carbono”. 

Para a executiva, Governança social é encarar o território em sua essência, com empresas bem estruturadas. Entretanto, as pequenas e médias mineradoras têm um caminho longo pela frente. As Pequenas e médias mineradoras precisam se estruturar para ter governança. “É arrumar a casa em primeiro lugar. Partir do principio da capacitação, entender o compliance para depois incorporar outras coisas. Educar e formar a sociedade do seu território é fundamental, mas dá muito trabalho. Não é de uma hora para outra que você consegue transformar um indígena em um técnico ou geólogo, mas sem preparação para uma faculdade não existe inclusão, definitivamente”. 

“Os aprendizados com a pandemia sob a ótica social”

O primeiro participante do painel foi o CEO da Largo Resources e presidente do SINDIMIBA, Paulo Misk, que iniciou tecendo considerações sobre o vanádio que a empresa produz em Maracás. “Ele tem como objetivo reforçar o aço, já que o vanádio melhora a resistência do mesmo e reduz o impacto ambiental da cadeia do aço”. Ele acrescentou que o vanádio da Largo Resources é usado também em ligas de titânio de alumínio para aeronaves  e é um produto de alta pureza. Em dezembro de 2020, a empresa lançou nos Estados Unidos bateria com vanádio para armazenar energia. Misk considera 2021 um ano de extrema transformação para a empresa, já que a Largo está comissionando a produção de V2O3 e cada vez mais focada em eficiência operacional e financeiramente sólida. 

“Este resultado econômico capacita a Largo em proporcionar condições às pessoas. Nós temos a responsabilidade de ter impacto positivo onde atuamos (junto às comunidades)”. Paulo Misk disse ainda que a Largo está alinhada aos ODS da ONU, além de ter conquistado ISO 9.000 e completar 2 milhões de horas sem acidentes. Outra preocupação do profissional é beneficiar a comunidade onde a mineradora atua. “Focamos em contratar pessoal local, sendo 80% da Bahia e a maioria destes de maracás e cidades vizinhas. A largo oferece treinamento, qualificação de funcionários, com promoção de diversos na própria empresa em cargos maiores”. Durante a COVID-19, a Largo criou as condições necessárias para as pessoas trabalharem, além de dobrar a capacidade dos ônibus, aumentar o tamanho do refeitório e não registrar nenhum caso grave da doença na mineradora. 

A largo realizou campanhas educativas e doações de kits, ventiladores, cestas básicas, EPI’s para Prefeitura, e um programa em especial (Mulheres Ativas) para produzir mais de 320 mil máscaras doadas em Maracás e cidades vizinhas. 

Misk disse ainda que a Largo tem programas de educação que ajudaram a bancar 70% das taxas e 16% dos funcionários estão no programa. Há treinamento dos professores, valorização de talentos e inauguração do Centro de Treinamento, com salas e laboratórios para melhorar a qualidade de empregabilidade. “Do ponto de vista ambiental, ocupamos 300 hectares, uma área de 4.400 hectares e um Reserva ambiental constituída. Fora isso, não jogamos efluentes das barragens em bacias hidrográficas, além de reutilizar 96% da água do processo de produção”.  

O Diretor de Assuntos Corporativos, Pessoais e SSMA do Appian Capital Brazil, Silvio Lima, elegeu três pontos como aprendizados durante a pandemia. O primeiro foi a adaptação do ser humano às situações, principalmente em relação às questões sanitárias (higienização das mãos, uso de máscaras, distanciamento social); Já do ponto de vista profissional, Lima diz que a empresa adotou o trabalho remoto para atividades administrativas. O segundo elemento é a vulnerabilidade. “Ninguém está acima ou imune à pandemia. Alguns são imunes ao vírus, mas não à pandemia. Eu cuido de mim, do próximo e vice-versa. Reconhecer a vulnerabilidade foi a forma muito clara de multiplicação de forças”. 

Como indústria, Lima disse que isso ajudou a promover várias mudanças, elevar padrões de segurança, transformar, para a empresa ser mais atraente para cativar pessoas. O terceiro elemento é que investimentos sociais precisam ser observados sobre a ótica social de quem recebe e não de quem faz. “Intenção não implica resultado. E poder econômico não indica capacidade de investimento social”. 

O terceiro participante, Manoel Valério, Diretor-Presidente da Mineração Caraíba S/A e Diretor Executivo de Operações da Ero Copper Corporation, disse que a pandemia nos ensinou a lidar com dor, medos, dificuldades e separação. “Este é o legado da pandemia COVID-19”. Valério explica que a pandemia colaborou para uma aproximação junto às comunidades, já que a premissa básica da pandemia era isolar-se ou conviver de forma diferenciada. “Quando você se isola, não sobrevive, já que existem as necessidades diárias, mas sabendo conviver numa aglomeração diferente foi fundamental para o trabalho continuar”. 

“Nós tínhamos uma interação com a aglomeração interna (empresa) e externa (comunidade, cidades) e na mineração há uma vantagem. Ser considerada atividade essencial ajudou e muito o setor. Tivemos que trabalhar na consciência individual e coletiva e aí entra a resiliência. Precisamos conviver de forma diferente”. A Caraíba elaborou comitê de crise e contingência com ações coordenadas com as comunidades e stakeholders. A empresa desenvolveu diversas ações em gestão e segurança, como o home office, canal de comunicação com comunidades e colaboradores, medidas preventivas, parcerias com as prefeituras, doações de EPIs , diálogo com comunidades. “Nossos projetos socioambientais começaram a avançar e o engajamento de todos cresceu no período”. Além disso, a companhia teve produção acima do previsto e intensificou processos de informações sobre a COVID-19, treinamento, parceria com secretarias de saúde, o que perdurou. A Caraíba comemora também o fato de não ter nenhum caso de COVID-19 desde o início da pandemia. 

Vice-Presidente de Sustentabilidade, Gestão, Planejamento Estratégico e Relações Instituições da Nexa Resources, Felipe Guardiano fez algumas considerações sobre esse período da pandemia. “Nós nos adaptamos bem e poderíamos usá-la para melhorar nossas empresas. Tivemos que mudar a maneira de atuar. Aprendemos com a pandemia com um trabalho de descoberta contínuo. A colaboração entre empresa e comunidade podia ser muito mais próxima – mas não é uma questão só de doação, de dinheiro, mas gestão, colaboração entre empresa e município”. 

Acredito que a pandemia nos ensinou para o futuro, já que um ano e meio após o início dela aprendemos a interagir muito mais. “É um legado que devemos levar adiante com o final da COVID-19, em novos tempos sem a pandemia”. 

Guardiano disse que, com o final da COVID-19, as empresas deveriam continuar a atuar como no período pandêmico. “As empresas precisam investir em educação, água tratada, esgoto. Não somos Governo, mas podemos realizar este papel. Todos têm a obrigação do ESG e nós, mineradores, também”. 

Questinados sobre o desafio da Licença Social e de como enxergam essa questão, cada participante opinou. Paulo Misk afirmou que na época da COVID, houve uma etapa de provação, já que as cidades foram obrigadas a fechar tudo, mas as mineradoras, como serviço essencial, tiveram que explicar à sociedade e comunidades o motivo disso. “Quando eles entenderam que a mineração ajudava as pessoas, a visão mudou completamente sobre a companhia. Com o apoio da sociedade é diferente e muito bom quando o valor da empresa é reconhecido e gera impacto positivo”. 

Silvio, da Appian, disse que a empresa buscou expandir o conceito de licença social para integração social. Para ele, o conceito vai além da licença. “Com a integração, você faz parte do todo. Ela guia nossa postura como empresa. Saímos melhores da pandemia, mas tem um caminho longo a ser seguido, dentro de um caminho de humildade, quebrando ciclos geracionais de pessoas sem acesso”, afirmou.

Para Manoel Valério, a questão do social é empolgante. A experiência da Caraíba fez com que a empresa atendesse mais de 100 comunidades em três municípios na Bahia. “A licença social deve ser referência mínima para adequação das empresas, para que elas conheçam obrigações e interferências onde atuam”.  Ele acrescentou que através das organizações das comunidades e interação com elas, a Caraíba vai expandir a questão social. “Por exemplo, 80% da água que bombeamos vai para quase 100 mil pessoas. É importante levar qualidade de vida para pessoas. Se você tem conhecimento das necessidades da área onde opera, atua, faça as melhorias  necessárias”. 

Felipe Guardiano, da Nexa, disse ser mais fácil uma comunidade parar um projeto mineral hoje em dia. “A licença social deve pensar isso o tempo todo. É a contribuição perceptível que a empresa pode dar à cidade, comunidade, vila e precisamos persuadí-los a entender isso. Nós não sabemos nos comunicar e precisamos atuar melhor para melhorar a vida das pessoas. Temos que saber explicar para a comunidade que o depósito mineral é um plano estratégico de 20 anos, que terá benefícios para comunidade e entorno”. 

Sobre a importância do ESG na mineração, Silvio Lima disse nunca ter trabalhado em uma empresa sem premissas do ESG. “Estes padrões têm mais de 15 anos e todos os elementos ambientais e sociais ( menos de governança) são conhecidos faz tempo”. Para Paulo Misk, sua opinião pessoal sobre o ESG é de que as empresas fazem os ratings de acordo com os seus dados. “Por exemplo, na parte de sindicalização não fomos bem avaliados. A presidente do sindicato é uma bolsita e frequenta minha sala a qualquer momento. Recebemos nota baixa nesse quesito, pois não esclarecemos tal item, sobre sindicatos”. 

“O pessoal também dá muito valor ao número de mulheres nas empresas. Temos dois latinos, asiáticos, mas isso não interessa. Isso não conta, pois escolhem alguns aspectos para definir o que é importante no ESG”. Misk diz que a Largo toma conta do meio ambiente, com as pessoas. “Estou muito feliz que pessoas sejam beneficiadas pela empresa, gente tratada com respeito, com outra perspectiva de vida”. 

Felipe Guardiano disse que ESG nada mais é do que o cumprimento de regras para a empresa estar alinhada com os padrões estabelecidos na região onde atua. Você precisa mostrar com indicadores o que está sendo feito. “O nome ESG é novo, mas o tema não. Antigamente era Sustentabilidade. Você tem que ter procedimentos para dizer que você cumpre, pois se não atender aos conceitos de ESG, a empresa irá sofrer e terá problemas com licenças. O tema ESG vai ficar mais intenso”. 

A íntegra das discussões do pode ser vista abaixo: 

Video Url
0:00 Início
0:50 Sessão Vídeo - Nexa Resources
2:46 Apresentação - Sérgio de Oliveira (Brasil Mineral)
5:18 Apresentação - Rolf Fuchs (Integratio)
9:30 Palestra "Sessão ESG - Governança Social" - Adriana Solé (Conselheira de Administração da SC Gás)
42:52 Sessão Vídeo - CBA
48:19 Apresentação - Rolf Fuchs (Integratio)

Painel "Os aprendizados com a pandemia sob a ótica social”
49:56 Apresentação - Giorgio de Tomi (NAP - USP)
54:36 Paulo Misk (Largo Resources)
1:20:36 Silvio Lima (Appian Capital Brazil)
1:31:30 Manoel Valério de Brito (Mineração Caraíba S/A)
1:48:20 Felipe Guardiano (Nexa Resources)
Rodada de Perguntas
1:59:13 Apresentação - Giorgio de Tomi (NAP - USP)
2:02:25 Paulo Misk (Largo Resources)
2:05:45 Silvio Lima (Appian Capital Brazil)
2:07:52 Manoel Valério de Brito (Mineração Caraíba S/A)
2:13:55 Felipe Guardiano (Nexa Resources)
2:22:35 Silvio Lima (Appian Capital Brazil)
2:26:58 Manoel Valério de Brito (Mineração Caraíba S/A)
2:32:25 Felipe Guardiano (Nexa Resources)
2:37:16 Paulo Misk (Largo Resources)
Considerações Finais
2:47:03 Paulo Misk (Largo Resources)
2:49:00 Silvio Lima (Appian Capital Brazil)
2:50:23 Manoel Valério de Brito (Mineração Caraíba S/A)
2:51:51 Felipe Guardiano (Nexa Resources)
2:56:09 Encerramento - Rolf Fuchs (Integratio)