ArcelorMittal investe US$ 350 milhões para expansão em Serra Azul

24/10/2022
Com o investimento, a capacidade em Serra Azul será ampliada de 1,5 milhões t/ano para 4,5 a 5,0 milhões t/ano.

 

Francisco Alves

A ArcelorMittal está investindo US$ 350 milhões para ampliar a capacidade de produção de minério de ferro em sua mina de Serra Azul, no município de Itatiaiuçu, Minas Gerais. Com o investimento, a capacidade em Serra Azul será ampliada para 4,5 milhões a 5,0 milhões t/ano, de acordo com o diretor de Bioflorestas e Mineração da ArcelorMittal Brasil. Além deste empreendimento, a empresa está investindo na ampliação da capacidade de lavra da mina do Andrade, que tem sua produção voltada para o abastecimento da usina de Monlevade. Este aumento em Andrade faz parte do investimento na ampliação da capacidade em Monlevade, na qual a ArcelorMittal está investindo US$ 500 milhões. 

A expansão em Serra Azul vai possibilitar o aproveitamento do minério itabirito compacto, de menor teor, e terá como prioridade o abastecimento de uma pelotizadora que o grupo ArcelorMittal possui no México e que utiliza pelotas de minério de ferro. A previsão é que o projeto de expansão em Serra Azul inicie produção no segundo semestre de 2023. Já a ampliação de Monlevade deve estar concluída no segundo semestre de 2024. 

Wagner Barbosa, Diretor de Bioflorestas e Mineração da ArcelorMittal Brasil.

Segundo Wagner Barbosa, embora as minas atuais da ArcelorMittal no Brasil sejam relativamente pequenas – com produção em torno de 1,5 milhão a 1,7 milhão t/ano cada – elas são estratégicas para o grupo. “Andrade é uma mina antiga, que veio junto com a aquisição da Belgo-Mineira, e hoje fornece exclusivamente material para a usina de Monlevade, que fica a 11km da mina, com uma linha férrea própria dedicada a esse abastecimento, e hoje cumpre 100% a necessidade de minério fino de Monlevade.

Já a mina de Serra Azul foi adquirida em 2008, da London Mining, e vem sendo operada com vistas ao mercado interno: fornecimento de lump e concentrado de itabirito para grandes empresas como CSN, Vale e Trafigura, que usam o minério como blending para completar suas cargas de exportação”, diz ele. 

A região de Serra Azul, onde operam várias mineradoras (além da ArcelorMittal, tem Usiminas, Trafigura, Minerita, Comisa) teve uma reserva importante de itabirito friável. A mina da ArcelorMittal vem operando com esse produto já há alguns anos, mas o grande futuro da região é o itabirito compacto. Atualmente, a mina de Serra Azul está no final da reserva de itabirito friável, por isso a empresa vai partir para a lavra do itabirito compacto, embora deva continuar produzido itabirito friável numa escala menor, em torno de 500 mil t/ano, o que contribuirá para prolongar a vida útil da mina. 

O projeto de ampliação em Serra Azul já está em andamento e, segundo Barbosa, encontra-se na fase de terraplenagem, compra dos equipamentos, concretagem de algumas estruturas e a expectativa é que esteja concluído no final de 2023, iniciando-se o ramp up. O diretor explica que, para atender à qualidade do minério, serão feitos ajustes no processo, desde a extração do ROM (minério bruto), que por ter uma característica mais dura é mais difícil de ser extraído, até os britadores, que devem ter maior capacidade. Também serão incluídos separadores magnéticos. Mas a grande novidade é a introdução de filtros-prensa, já que os rejeitos serão secados e empilhados a seco. 

Descaracterização da barragem 

Paralelamente ao projeto de ampliação em Serra Azul, a ArcelorMittal vai fazer a descaracterização da barragem, que vai exigir a construção de uma estrutura de contenção a jusante antes de qualquer intervenção, que já foi iniciada. A expectativa, segundo Wagner Barbosa, é que o projeto executivo de descaracterização da barragem seja entregue em dezembro de 2022. Atualmente estão sendo discutidas as tecnologias que serão utilizadas, como o uso de equipamentos não tripulados. Existe a intenção da empresa de fazer o reaproveitamento dos rejeitos, o que poderia ser possível com o uso da planta de itabirito friável, que vai continuar em operação para tratar o minério que está no rejeito. A ideia é reduzir o máximo possível o volume dos rejeitos que se encontram na barragem, que hoje somam cerca de 5 milhões de metros cúbicos. 

Na lavra em Serra Azul, a empresa pensa em introduzir inovações, como o uso de caminhões elétricos e equipamentos de baixa emissão ou baixo consumo de combustível. “A ideia é ter uma operação com a menor emissão possível”, diz Barbosa, acrescentando que a empresa também estuda oportunidades de geração de energia limpa. 

Mina do Andrade, atualmente em trabalhos de preparação para a expansão da produção.

Expansão da mina do Andrade 

Em Andrade, a expansão acontecerá basicamente na lavra, já que a planta, instalada em 2018, tem capacidade instalada para 3,5 milhões t/ano e visa quase que exclusivamente o atendimento da duplicação da capacidade da usina siderúrgica de Monlevade. 

Segundo Wagner Barbosa, uma das características importantes da mina do Andrade é que, diferentemente de Serra Azul, lá ainda existe uma reserva considerável de hematita friável, embora tenha também bastante itabirito. Assim, na planta de concentração a empresa produz concentrados de hematita e de itabirito, que depois são blendados para abastecer a usina de Monlevade com sínter feed. “Consegue-se blendar cerca de 30% do concentrado na hematita para entregar em Monlevade um sínter feed com a qualidade e granulometria necessária para que se possa colocar na sinterização nova e na atual”, diz o diretor. 

Ele explica que não há investimentos previstos na planta, já que serão feitos basicamente alguns ajustes finos.  “O que se vai fazer é aumentar a frota própria de equipamentos para que se possa ter uma produção de ROM maior do que a atual. No futuro, daqui a uns cinco anos, provavelmente teremos que fazer mais um investimento, para que se possa avançar com a cava, eliminando-se algumas interferências, mas nada de grande porte. A mina está preparada, em termos de instalação, para produzir o volume que Monlevade vai demandar, com alguns investimentos na frota e também na logística, já que o fluxo vai aumentar consideravelmente. Serão acrescentados caminhões, escavadeiras, tratores, perfuratrizes. Mas os valores estão incluídos nos investimentos da expansão de Monlevade”. 

Relocação das comunidades em Serra Azul

No bojo dos projetos de expansão, a Arcelor Mittal concluiu o processo de relocação das comunidades que estavam na zona de risco da barragem de rejeitos em Serra Azul, que foi classificada como nível 2 de emergência. De acordo com Wagner Barbosa, esse processo foi iniciado em 2019, em duas etapas: primeiramente as famílias foram alojadas em hotéis e pousadas da região, depois em casas alugadas escolhidas por eles (hoje há 55 famílias em casas alugadas). E depois a empresa firmou um TAC (Termos de Ajustamento de Conduta) com o Ministério Público, comprometendo-se a cuidar das famílias, tentando minimizar os impactos ocasionados na vida das pessoas. 

Para assessorar os atingidos na região, a empresa instalou a ATI (Assessoria Técnica Independente) na localidade, que estabeleceu uma comissão de atingidos e começou a discutir critérios de reparação do dano que havia sido causado ao remover as pessoas. 

“Foi um processo de muita discussão (mais de uma centena de reuniões) e em junho de 2021 concluímos um acordo pioneiro no Brasil: um acordo de reparação assinado pelos dois ministérios públicos e pela comissão de atingidos, a ATI e a empresa, com o compromisso de reparação individual. Esse acordo estabelece parâmetros de reparação individual para cada uma das famílias atingidas, no total de 655”, afirma o diretor. 

Agora, depois da assinatura do acordo, está sendo feito um processo de discussão família a família. “É um processo lento, porque a ATI faz um levantamento, muitas reuniões para explicar o processo, o modelo, chegar a um valor e forma de indenização. Isso está em andamento, cerca de metade das famílias já assinaram o acordo e esperamos terminar o processo no final de 2022 ou 2023”, diz esclarece Barbosa.  

Ele acrescenta que também foi iniciado um processo de discussão de reparação coletiva, que vai reparar a comunidade e os danos causados ao coletivo. “Nesse processo estão sendo discutidos eixos em questões de Saúde, Educação, Trabalho, com o objetivo de fazer investimentos para que se possa estimular a economia, para retornar o ambiente socioeconômico para uma situação se não melhor, pelo menos igual ao que se encontrou. E foi iniciado o pagamento de uma parcela de ajuda, uma antecipação do acordo coletivo, através de uma parcela mensal que começou com dois e meio salários mínimos por família e hoje está em um salário e meio por família”. A empresa espera até o final do ano encerrar o acordo coletivo, para iniciar o processo de reparação. “E nessa reparação coletiva está participando a prefeitura de Itatiaiuçu, que vai priorizar projetos que entende ser importantes e que vai ser parceira na implementação”, conclui Barbosa.