Qual será o futuro da mineração em Minas Gerais, que ainda se mantém como o principal produtor de bens minerais no País? Será que o Estado conseguirá transformar o seu parque produtivo mineral, que ainda é altamente dependente da produção de minério de ferro e ouro, os quais moldaram a história não só da mineração como da própria sociedade mineira?
Estas são questões que hoje preocupam não apenas aqueles diretamente envolvidos com o setor mineral, mas também o próprio povo mineiro, principalmente os habitantes daquelas cidades em que a mineração é uma atividade predominante.
Como é sabido, a mineração em Minas Gerais se desenvolveu à base da extração de ouro — primeiramente — e do minério de ferro. O ouro moldou a história e a alma mineira, em todos os sentidos. O minério de ferro das montanhas mineiras foi a base do desenvolvimento da indústria brasileira, alimentando os fornos siderúrgicos nacionais e depois os do mundo, começando pelos dos Estados Unidos, seguindo ao do Japão pós-guerra e da China moderna. O minério de ferro tornou-se também uma grande fonte de divisas para o País.
O problema é que a escala da produção de minério de ferro em território mineiro aumentou exponencialmente a partir do início dos anos 2000, quando a mudança de preços motivada pela demanda chinesa tornou a atividade altamente rentável. O grande aumento da produção trouxe como consequência a questão das barragens de rejeitos e os acidentes. Para as pessoas, a extração de ferro — e os seus problemas — passou a ser sinônimo de mineração e objeto de contestação. Mudar isso é um desafio para o setor e a mineração de ferro (assim como de outros minerais) está tendo que se reinventar.
Mais recentemente, com a questão das mudanças climáticas, a mineração em Minas Gerais voltou o seu olhar para o aproveitamento dos minerais que desempenham papel preponderante na transição energética, dos quais o Estado tem boas reservas, como o lítio, as terras raras e o nióbio. Muitos passaram a acreditar que essa nova mineração — embora o lítio e o nióbio já sejam produzidos no estado há muitos anos — vai mudar o panorama e o futuro da mineração em Minas Gerais. Esperamos que sim. Esta é uma oportunidade que Minas Gerais e o Brasil não podem perder.
Porém, tão importante quanto diversificar a cesta mineral do Estado talvez seja que a mineração em Minas Gerais mude de uma vez por todas a sua mentalidade. Não há mais espaço para a produção a qualquer custo (do ponto de vista econômico, social e ambiental), porque a sociedade não aceitará. Os empresários e dirigentes do setor precisam entender que as coisas devem ser feitas não porque a lei o determina, mas porque a sociedade assim o exige. E, como diz o ditado, Vox populi, vox Dei.
Veja o editorial na edição 442 de Brasil Mineral