Sigma Lithium usa o conceito de "Capex social" para mudar a face do Vale do Jequitinhonha

06/11/2023

Francisco Alves

Por ter seu projeto localizado em uma das regiões de mais baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) no estado de Minas Gerais e no País, a Sigma Lithium buscou privilegiar as relações comunitárias desde o início de seu empreendimento para produção de lítio no Vale do Jequitinhonha, empreendendo uma série de ações inovadoras antes mesmo do início da implantação do seu empreendimento, o que levou ao seu reconhecimento como Empresa do Ano do Setor Mineral na categoria Governança Ambiental.

De acordo com a CEO da Sigma Lithium, Ana Cabral, por conta do baixo nível de desenvolvimento da região a empresa teve que aportar um grau de sustentabilidade social bem antes de operar, para que, à medida que o projeto evoluísse e a empresa prosperasse, fossem criadas as bases para que a comunidade pudesse prosperar junto. Assim, desde o início de 2019 – e em 2020 de forma mais intensa – a empresa adotou o conceito de “Capex social”, que era usar a parte que se chama de Capex para as despesas sociais. Porque o objetivo era, no mínimo, elevar o IDH da região para os mesmos níveis do Brasil. “Ficou muito claro para nós que se houvesse essa disparidade entre a empresa, seus funcionários e a região, não iríamos ter a licença social para operar”.

Por conta, principalmente, do projeto da Sigma, a região cresceu 20% este ano, quando a empresa começou a produzir. Ana Cabral lembra que, em 2003, o presidente Lula foi a Itinga, município onde está situado o projeto, para lançar o Fome Zero, porque era então o município mais pobre do Brasil. “Vinte anos depois, Itinga volta ao noticiário, desta vez de uma maneira diferente, em função da frente governamental que foi feita na Nasdaq, para lançar o Vale do Lítio e com o embarque do lítio triplo zero produzido pela Sigma, com uma parceria muito grande entre os governos federal e estadual”.

Ainda na fase de implantação, a Sigma criou alguns programas sociais importantes. Um deles é o Microcrédito, que deverá abranger 10 mil mulheres, em que a empresa oferece um crédito de R$ 2 mil reais para cada uma delas, totalizando R$ 20 milhões, para que essas mulheres possam empreender.

A CEO acredita que se as taxas de adimplência se mantiverem na faixa de 80%, haverá oito mil desses microempreendimentos sendo bem sucedidos. Como a previsão é que cada um dos empreendimentos empregue uma pessoa, serão criados 16 mil novos empregos. “O poder do microcrédito é muito forte para alavancar uma região onde as pessoas não têm a capacitação e permite a monetização da capacitação cultural”’, diz ela. A CEO enfatiza muito este programa, porque visa incluir economicamente as mulheres oferecendo microcrédito e monetizando as habilidades culturais que elas têm. “Essas mulheres não estão aprendendo nada de novo, mas simplesmente ganhando dinheiro com o que sabem fazer, isto é, o que elas aprenderam quando meninas no Jequitinhonha, que é um lugar extremamente rico. A riqueza cultural do Jequitinhonha está sendo monetizada por quem tem toda essa riqueza cultural, que são as mulheres. E o que é essa riqueza? A costura, o artesanato, a culinária e agora os serviços de beleza. A mulher do Vale é muito vaidosa, então tem todo um potencial de serviços de beleza que elas estão explorando comercialmente”.

O sonho da empresária é “que as 10 mil mulheres que estamos apoiando daqui a cinco anos tenham 100 empresas viáveis, empregando mais gente. É 1%, um número totalmente factível. Se conseguirmos isso, teremos cumprido nossa missão, porque contribuímos para criar uma atividade perene. É capital de risco social investido em empreendimentos de cunho social. Queremos mostrar para as pessoas que isso é possível. Tanto que grandes bancos de fomento nacionais já estão todos interessados no programa”, diz ela.

Outro programa social importante é o “Zero Seca”, que utiliza técnicas de pequena agricultura, através do que se chama no local de “Barraginha”, que na realidade são estruturas de irrigação para agricultura familiar. Essas “barraginhas” capturam a água que cai na estação chuvosa e armazenam para serem usadas durante o ano inteiro. E isso permite manter o agricultor em sua terra todo o ano, ao invés de fazer a diáspora do Vale do Jequitinhonha, deixando a sua terra para ir cortar cana em outro lugar, provocando o rompimento do tecido social, porque os homens vão e as mulheres ficam. “Com o agricultor permanecendo na terra, ameniza--se o problema que havia antes, das `viúvas do Vale’, que são viúvas de maridos vivos”.

O programa foi destacado durante a participação da Sigma na COP-27, no Egito, e consiste na construção de 1.000 pequenas estruturas de captação de água de chuva no município de Itinga e outras 1.000 no município de Araçuaí, totalizando 2.000 estruturas na região do médio Vale do Jequitinhonha. O investimento total da Companhia está estimado em aproximadamente R$ 4 milhões (R$ 2 mil por estrutura).

E por último há o programa Água para Todos, que é de segurança hídrica, porque, segundo ela, a empresa não pode ter uma comunidade do seu lado sem água. Este programa consiste na doação e manutenção de 3 mil caixas d'água para moradores rurais das regiões de Itinga e Araçuaí sem acesso a água encanada.

Além disso, a Sigma gerou 1 mil empregos diretos e 13 mil indiretos, sendo que 85% são pessoas oriundas do Jequitinhonha. Para favorecer o programa de priorização de pessoal da região para trabalhar no empreendimento, a empresa desenvolveu uma estratégia denominada “Volta ao Lar”, que visava atrair pessoas que eram da região e haviam migrado para outros locais. O programa inclui a capacitação das pessoas em diversas profissões.

A empresa também desenhou um programa de royalties (CFEM) voluntários, em que ela decidiu pagar o royalty na ponta, ou seja, com base no preço do produto final, o que faz com que o royalty seja uma espécie de IPI, nas palavras da CEO da Sigma. Nessa lógica, segundo ela, em 13 anos a empresa deve pagar, a título de royalty, um total de R$ 2 bilhões, dos quais a maior parte vai para o município, representando uma grande injeção no combalido orçamento municipal.

A Sigma também teve uma atuação social muito importante no Vale do Jequitinhonha durante a Covid-19, fornecendo 7 mil cestas básicas mensais durante o período da pandemia e prolongando o fornecimento até o final de 2022.

A empresa também doou 24 toneladas de desinfetante e 24 toneladas de álcool-gel para as mãos, para hospitais e clínicas locais durante o período de a pandemia.

Veja a matéria completa na edição 434 de Brasil Mineral