“O agronegócio e a mineração têm uma agenda positiva, independente de governo, independente de postura ideológica, que, no nosso entendimento, só faz com que a nossa responsabilidade seja maior ainda. O nosso cliente final, o produtor rural, e a sua missão final, que é garantir segurança alimentar de bilhões de pessoas, é uma agenda suprapartidária e supragovernamental, então estamos bem inseridos”, disse Gustavo Bastide Horbach - CEO da Eurochem no Brasil, em entrevista a Brasil Mineral durante a Exposibram 2024. Em março passado, a empresa iniciou a operação do Projeto Serra do Salitre.
Em processo de ramp up da fábrica, Salitre vem aumentando gradativamente a produção dos equipamentos. Não é uma planta comparável com uma planta química ou petroquímica ou de siderurgia, porque ela tem uma variabilidade associada à própria variabilidade do minério. Aos poucos a empresa vem acertando a produção, flotação, recuperação metalúrgica, o que está acontecendo muito bem. “Já estamos produzindo em nível industrial, desde a inauguração praticamente, vendendo fertilizantes, ácido sulfúrico para o mercado e agora gradualmente aumentando a produção”, informa Horbach.
A intenção é produzir cerca de 400 mil toneladas em 2024 e no próximo ano chegar à capacidade máxima de 1 milhão de toneladas. Enquanto aumenta a produção, a EuroChem mantém uma conversa mais próxima com a comunidade, “que viu e se engajou nas obras do Complexo Serra do Salitre, nos recebeu de braços abertos e é nossa parceira”. O executivo conta que com os desafios de operação, a comunidade vem também entendendo a dinâmica do sistema – “se tivéssemos saído do zero para 1 milhão de toneladas no dia seguinte, talvez o impacto na comunidade fosse maior”.
Esse bom relacionamento é o que capacita a EuroChem a pensar em novos investimentos aqui no Brasil. Em seu DNA, a empresa é uma empresa industrial e só no Brasil tem a etapa de distribuição, o que faz sentido, considerando os 85% de fertilizantes que o país importa. Salitre foi o primeiro passo no sentido de ter uma produção local, desejo da EuroChem, que já possui diversas fábricas da Rússia e Europa. “Nossa perspectiva imediata é operar Salitre na máxima capacidade, otimizar as 22 distribuidoras que temos aqui no Brasil, olhar investimentos em logística, para que atuem e operem de uma maneira extremamente otimizada e eficiente, e aí sim, olhar alguns investimentos que façam sentido do ponto de vista de produção local”, continua Horbach.
De acordo com o CEO da EuroChem, o Brasil, por sua característica de grande importador, “é atrativo para qualquer empresa produtora de fertilizantes do planeta. Não é à toa que os maiores players mundiais estão aqui. Agora, o nosso intuito é, de novo, investir na produção. E aí, tem uma conexão imediata com a mineração, porque não há como ter uma fábrica de fertilizantes em produção local se a gente não tiver, pelo menos potássio e fósforo, dois nutrientes que nos são muito caros. Acredito que em curto prazo vamos ter alguns investimentos, sobretudo para produção local”.
Na Rússia, a Eurochem é a maior operadora de plantas de nitrogenados e também tem muito potássio. No caso do Fosfato, são duas operações, uma no Cazaquistão e a outra aqui no Brasil, que é a Serra do Salitre – “então, globalmente falando, faz muito sentido para nós termos mais investimentos em potássio para balancear a produção. Agora, quando a gente olha para o mercado brasileiro, não há dúvida de que ter investimentos, seja qual empresa for, em potássio, em nitrogênio, fazem muito sentido também”, diz Horbach, salientando que no momento não existe nenhuma visão específica para algum nutriente – “estamos muito mais preocupados em olhar se são negócios que fazem sentido quando estão integrados com a nossa pegada global atual e se tem alguma sinergia com o que já temos no Brasil”. Enquanto empresa, a EuroChem segue olhando para negócios no Brasil que façam sentido para o mercado, seja através de investimentos próprios ou com parcerias – “penso que ter uma empresa produzindo nitrogenados no Brasil, independente de quem seja o dono desse investimento, seja estatal, seja privado, faz todo sentido e garante menos dependência da importação, que no final das contas é o que todos querem”.
Desde 2016, a EuroChem já investiu US$ 3 bilhões no País. Hoje são mais de 22 unidades de distribuição e uma planta de produção, relação que se desenha como longeva. “E, se é para atender melhor o nosso cliente final e diminuir a importação absurda de fertilizantes que existe hoje, estudaremos com carinho o investimento em novos negócios, seja capital próprio, seja parceria’”, volta a frisar o executivo. Do volume de investimentos informados, US$ 1 bilhão foi direcionado para Salitre.
A EuroChem está na fronteira entre mineração e agronegócio, sobretudo pela atuação de fosfato em Salitre. Horbach diz que o agronegócio brasileiro desenvolveu nas últimas décadas uma reputação invejável, seja interna ou externamente e que a mineração não conseguiu criar o mesmo caminho e que algumas iniciativas do Banco Central começam a mostrar a relevância da atividade. Algumas ferramentas, como CRAs, que foram desenvolvidas pelo mercado financeiro, pelo agro ou para o agro, talvez possam ser adaptadas para a mineração, indústria de capital intensivo. Na visão de Horbach, as empresas de mineração no Brasil, tirando aquelas que são multinacionais, ainda carecem de governança e de estruturação para poderem acessar o mercado de capitais – “os investidores precisam confiar na empresa, o que significa entender o que a empresa faz, entender a indústria em que ela está inserida”.
Novos depósitos
O subsolo brasileiro é muito pouco conhecido na sua totalidade. “O ministro das Minas de Energia assinou, no mesmo dia da inauguração de Salitre, um convênio para exploração do subsolo visando os minerais que são afeitos ao programa que estamos utilizando. Por mais que a empresa tenha vontade de se instalar no País, que haja segurança jurídica, licenciamento sério, se não souber onde estão e quais são depósitos que podem ser explorados, é inócuo. Nós temos centro de tecnologia de mineração fora do país e nossa intenção é conectar cada vez mais os profissionais do Brasil a este espaço. Temos mais de 15 minas fora do País, todas com centro de tecnologia, centro de mineração, como repositório de informações e melhores práticas. E, gradativamente, vamos conectar a mina aqui no Brasil com as outras lá fora”, informa o executivo.
As margens de operação das minas fora do Brasil são melhores. Enquanto o teor de fosfato em Serra do Salitre é de 4,5%, no Cazaquistão o teor da rocha natura é cerca de 29%. No Marrocos a empresa tem 33% de P2O5. Para garantir a competitividade, a operação tem que ser eficiente – “o nosso resultado lá fora é melhor, mas não há a menor possibilidade de não estar aqui no Brasil de maneira eficiente”, avalia Horbach. Em 2020, a EuroChem era conhecida somente por 2% dos produtores rurais. Em 2023, e agora em 2024, sobretudo após a inauguração de Salitre, a marca já é reconhecida por 98% dos produtores rurais. “Tenho certeza de que investindo na eficiência das nossas plantas, como estamos fazendo agora, investindo em ter corredores logísticos cada vez mais otimizados, que é o que nós pensamos, e conectando a nossa produção local de Salitre, vamos ter uma participação maior aqui no País. Sinceramente, não é o nosso intuito ser o primeiro, o segundo, ou o terceiro. Nosso desejo é operar da melhor forma possível e entregar para o nosso cliente final o portfólio de produtos mais diversos e o que ele mais precisa”, entende Horbach.
Desde a construção, Salitre desenvolveu estudos de expansão, sobretudo para melhorar a capacidade de produção de teores fosfóricos, o que vai acontecer em breve, e também porque otimizando a recuperação, a EuroChem vai conseguir, de maneira sustentável, que a planta de beneficiamento entregue um volume maior. Toda planta industrial, depois da sua partida, passa por algumas etapas. A primeira é o ramp up, que é o que está acontecendo agora, depois a planta passa a operar em condição estável, e vêm os ganhos incrementais, fruto de um time bastante competente. “Não tenho dúvidas de que Salitre vai produzir em breve período uma capacidade maior do que 1 milhão de toneladas que temos hoje instalada”, sinaliza Horbach. Reservas para tanto existem. A empresa irá iniciar em breve o processo de licenciamento de Salitre 3, numa região extremamente atraente para investimentos, que poderão vir através de parcerias – “estamos totalmente abertos, se isso fizer sentido e for bom para todos, sobretudo para o produtor rural”, finaliza o CEO da EuroChem.