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Mineração tem que dar respostas à sociedade

29/04/2022
Cada vez mais cobrada após os dois acidentes com barragens, a mineração busca dar respostas efetivas em relação à segurança e conservação dos recursos naturais.

 

Por Rodrigo Gabai

O Fórum Brasil Mineral juntamente com a cerimônia de premiação das Personalidades do Ano do Setor Mineral 2022 aconteceram na tarde de 28 de abril, no auditório da Abimaq, em São Paulo, de forma presencial e com transmissão ao vivo. O Fórum teve como temas ESG e descarbonização, assuntos que lideram as tendências que podem impactar o setor de mineração e deverão estar no centro das atenções das mineradoras nos próximos 12 a 18 meses. 

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Cada vez mais cobrada após os dois acidentes com barragens, a mineração busca dar respostas efetivas à sociedade para garantir a segurança das pessoas, com a conservação dos recursos naturais, e exercitando a governança de forma transparente, mostrando a todos o que está sendo feito. As mudanças climáticas também passaram a estar no centro das preocupações da sociedade, em nível mundial. Cada vez mais se afirma a consciência de que, se não for freado o aquecimento global, a humanidade caminhará para uma catástrofe. E a mineração tem um importante papel a desempenhar na redução das emissões de carbono. 

O primeiro bloco do Fórum, que abordou o tema ESG, teve como moderador Luiz Enrique Sanchez, professor da Escola Politécnica da USP e membro do conselho de Brasil Mineral, e os participantes Ana Cunha, da Kinross, Flávio Penido, ex-diretor presidente do Ibram e Rodrigo Franceschini, da Câmara Setorial de Cimento e Mineração (CSCM), da Abimaq. 

Para início de conversa, o professor Sanchez disse que o tema ESG passou a ser difundido há muito tempo e um evento entre o Pacto Global e IFC só reforçou a importância das práticas ambiental, social e de governança. 

Ana Cunha, da Kinross, comentou sobre o “S” da temática ESG dizendo que a mineração em especial tem uma vanguarda muito grande na discussão dos temas, principalmente na parte ambiental, provocada por pressões externas ou pela busca de excelência de processos. “Ainda temos um descompasso da letra “S” em relação às outras duas letras, pois é um processo de maturação. Talvez por não ser um aspecto tão regulado, quanto a parte de governança e ambiental ou pelo fato de vivermos do advento das pressões pelos grupos com os quais convivemos”. Para Ana, há um espaço de crescimento nos locais onde a mineração opera, principalmente por projetos de mineração ser de longa duração em um mesmo local. Isto impacta positivamente o relacionamento entre mineradora e comunidades, pois há um entendimento do que a região afetada pelo projeto irá precisar. “Quando olharmos no pós-mineração, vamos ter a certeza que contribuímos de maneira diferenciada para que todas as cadeias sejam melhores do que no dia em que nós chegamos”. 

Na sequência, Rodrigo Franceschini, da CSCM, foi convidado para discorrer sobre a letra “E”, que trata o tema fundamental para a indústria de mineração e com a comunicação do setor com a sociedade. “Há um interesse da indústria em desenvolver equipamentos e soluções técnicas e tecnológicas que consumam menos energia (não desperdiçar) e menos recursos hídricos, pois, desta forma, a indústria gera um volume menor de resíduos para o ambiente e gases poluentes”. 

Segundo Franceschini, a solução encontrada hoje para uma operação ambientalmente adequada pode estar obsoleta daqui a três, quatro anos. “Uma coisa que as mineradoras no Brasil precisam aprender é que nos projetos desenvolvidos ficam em segundo plano o OPEX e a segurança dos profissionais. É um alerta, pois a mineração brasileira é diversa, grande e heterogênea, com segmentos que estão mais adequados que outros”. A parte ambiental tem que ser tratada de forma pragmática. Na Abimaq, existem iniciativas como uma câmara só de tratamento de efluentes, um Grupo de Trabalho só de energia limpa, como energia eólica e uso de hidrogênio. “Olhamos a parte ambiental com foco na eficiência energética e processual dos equipamentos. Somos apoiadores da mineração e o ambiental tem que ser primordial para o desenvolvimento de projetos”. 

O terceiro participante, Flávio Penido, da Open Brazil e ex-Ibram, abordou a sigla “G”, que trata a Governança, mas disse que é difícil comentar cada tema separadamente. Penido citou os acidentes com as barragens que fez com que as empresas refletissem qual é o modelo de governança a ser adotado. “Será que as informações mais técnicas, ligadas a aspectos ambientais e da sociedade, estão permeando a estrutura da organização, de forma a chegar de forma clara àqueles que decidem no topo das empresas?”. 

Os acidentes levaram as empresas a se preocupar mais do que o habitual de uma maneira geral. Com isto, houve a criação de grupos multidisciplinares nas mineradoras para a alta cúpula das mineradoras ouvir as diversas opiniões. Na minha época no Ibram, lançamos a Carta-Compromisso com 12 temas que abordam as práticas ESG e permitiu que debatêssemos com as empresas para melhorar métricas, tecnologias, etc.. “Precisamos ter cada vez mais dados ambientais, de governança, enfim, sobre todos os quesitos. A mineração é ampla, então o desafio é como chegar ao ESG para todo o setor. Como deve ser a governança de uma pequena ou média empresa, não bastam apenas leis após os acidentes?”

Rodrigo Franscesconi respondeu sobre a importância das métricas apropriadas para avaliar o impacto ambiental na indústria da mineração. “Cada caso é um caso. É relativamente fácil no aspecto ambiental, caso você siga a lei. Tecnicamente falando é fácil adquirir certificações inerentes ao meio ambiente e isto é o mínimo que uma empresa tem que fazer”. Para Fracesconi, o mínimo todos devem fazer, mas o que fazer a mais? “Será que tenho um processo de melhoria contínua e como posso melhorar”? Já Ana Cunha disse que o tema é um grande desafio e não há mais espaço para um “mínimo legal”. Segundo Ana, o importante é fazer a coisa certa e as pessoas estarem satisfeitas nas suas interfaces. “A partir do momento que estabelecemos a relação com o parâmetro do outro, este é o segredo”. Por último, Penido disse que é importante saber o início, meio e fim de onde se quer chegar. No caso da mineração, isto é focado onde se está minerando. Embora a estratégia seja de longo prazo, temos que rever a estratégia a cada momento. “No relacionamento, há de se estabelecer um relacionamento com a comunidade e não apenas com os prefeitos, já que estes últimos mudam a cada eleição”. 

Descarbonização 

A segunda mesa-redonda debateu o tema Descarbonização e contou com a participação de Ricardo Carvalho, da CBA, Márcio Remédio, do SGB-CPRM e Rodrigo Gomes, da Nexa Resources, e teve a mediação de Giorgio De Tomi, professor da EPUSP e também membro do conselho da Brasil Mineral.  

O conselheiro De Tomi perguntou aos participantes quais as ações e iniciativas e desenvolvimentos tecnológicos em andamento nas suas organizações para contribuir com os escopos 1 e 2 da COP-26? 

Inicialmente, Ricardo Carvalho, CEO da CBA, disse que o tempo é curto para alcançar os objetivos de 2030. “Temos que nos posicionar com metas concretas. Na CBA, temos dez programas. Um deles é o de mudanças climáticas, que se desdobra em dez pilares, que se desdobra em 15 programas com 31 metas no nosso GRI. Uma delas é a meta de reduzir 40% de emissão de CO2 até 2030”. 

Além disso, há a caldeira biomassa já implantada na nossa refinaria, upgrade na tecnologia de todos os fornos, o programa Reflora em parceria com pequenos agricultores para a recuperação de áreas permanentes. “Usamos nossos viveiros para promover o plantio em pequenas propriedades voltadas à biodiversidade”. Carvalho afirma que as empresas têm que ter compromissos firmes para que se atinja essa meta;  ter credibilidade com metas e ações para atingir as metas de Paris. Outro ponto, é que tudo que a CBA faz é auditado desde 2018, já que a empresa tem o selo do GHC Protocol. “Estamos caminhando no sentido do que o mundo precisa e, por último, participar de diversas atividades que nos tragam possibilidade de contribuir e nos tragam contribuições”. 

O segundo participante, Rodrigo Gomes, da Nexa, disse que desde 2014 a empresa trabalha com metas de redução de gases de efeito estufa. “Antigamente as metas eram em cima de eficiência energética. Mas com eficiência energética pura e simples, não se consegue fazer a transição energética para combustíveis renováveis”, Por isso, tivemos que mudar o mindset e reduzir os gases de efeito estufa também”. Com a evolução tecnológica, a Nexa buscou deixar os combustíveis utilizados o mais renováveis possível. No escopo 2, a Nexa conseguiu 100% de mudança, enquanto no Escopo 1 a empresa focou em tecnologias para mudar os combustíveis. 

“Conseguimos reduzir 8% até 2020 por meio de parceiros, universidades e outros. Testamos biodiesel a partir de óleo residual de cozinha e vimos que é possível usar em equipamentos de mina subterrânea. Testamos equipamentos à bateria com sucesso no Peru. As baterias ainda têm vida útil muito baixa e um custo muito alto. Trabalhamos com startups para desenvolver baterias de zinco para reduzir as emissões e aumentar a vida útil do produto, além de realizar a transição energética”. A Nexa também implantou um projeto de bioóleo – substituição de óleo de petróleo por bioóleo de eucalipto em nossa usina de Três Marias, onde temos uma caldeira a biomassa já em andamento. “Estamos chegando a nível de CO2 realmente baixo, que é o que a gente procura”. 

Por último, Márcio Remédio, do SGB-CPRM, afirmou que o compromisso é tão grande quanto as produtoras de materiais. Desde os elementos necessários para a transição energética, estudos para manutenção e aumento de vida útil de brownfiled, trabalhamos com o urânio e os estudos que vão trazer os reatores modulares para determinadas regiões, além de outras oportunidades como mapeamento de regiões costeiras para torres eólicas offshores, novas oportunidades em carboquímica, estudos para armazenamento de gás. “Outros pontos mais evidentes, em função da crise, tem os reminalizadores e o pó de rocha para agricultura que captam carbono. Temos trabalhado para todo o setor mineral e procurado avançar nessa agenda de descarbonização”. 

Outro questionamento é que a mineração pode fazer em longo prazo para atingir as metas de 2050? Ricardo Carvalho disse que quando falamos de 2050, não se tem nada conhecido em nenhum setor. “Temos que focar em desenvolvimento e tecnologia para chegarmos ao carbono zero. Existe um campo muito promissor para chegarmos a um mundo carbono zero. Nós temos um escopo 2 (um dos melhores do mundo)”. 

Ele informou que o Instituto Votorantim estimula startups para novos desenvolvimentos em descarbonização. “A captura de carbono é algo importante também, porém mais fortes que só reflorestamento”. 

Referindo-se à necessidade de mudança da imagem da mineração, ele disse que a tarefa tem que ser feita o quanto antes. “A mineração sustentável pode devolver a área minerada melhor do que era antes”. Para Carvalho, é importante reverter a imagem de deterioração da mineração, e se precisa trabalhar cada vez melhor para o setor ser reconhecido pelo que merece. Já Rodrigo disse que é daqui para frente é necessário muito desenvolvimento tecnológico junto a universidades, startups. “Precisaremos dos 3Cs - Conhecimento, colaboração e coragem. Temos que mudar o setor completamente para deixar um legado. Um item de destaque é a transformação de resíduos em novos produtos para reduzir os gases de efeito estufa. O novo produto será um produto com menor poder de emissão de CO2. O ESG como um todo nos garantirá uma emissão muito menor que a atual – estamos trabalhando com uma startup americana para capturar CO2 de nossa chaminé para, através do resíduo, produzir cimento. Quando não tivermos mais nada, é fundamental recuperar a área degradada com replantio para benefício de toda a sociedade”. 

Já Márcio Remédio disse que, “para os mais novos, vamos chamar a atenção quando não conseguirmos atingir as metas de 2030. As consequências de não reversão e não redução de emissões será mais clara e aproveitaremos a oportunidade para reafirmar a importância do setor”. 

O Fórum Brasil Mineral teve patrocínio da CBA-Companhia Brasileira de Alumínio e Kinross. 

Personalidades do Ano do Setor Mineral

Em 2022, o Conselho Consultivo da Brasil Mineral resolveu mudar as categorias de premiação, que passaram a ser as seguintes: Gestão Empresarial, Implementação de Práticas de ESG, Inovação Tecnológica, Exploração Mineral, Liderança Feminina e Pioneiros da Mineração. 

Porém, o processo de escolha continuou o mesmo, sempre com o propósito de que o processo seja o mais democrático possível e com ampla representatividade. A votação aconteceu via Internet, através de nosso site, em que se permite apenas um voto por pessoa. Este ano, a eleição contou com 11.046 votos, o que mostra a grande representatividade de todos os indicados. 

O conselheiro da Brasil Mineral Fernando Mendes Valverde entregou o prêmio para Flavio Penido, que agradeceu dizendo que assumiu o Ibram em um momento problemático. “Trouxemos uma nova expectativa para as comunidades, após dois acidentes, mostrando a verdadeira mineração”. 

Penido recebeu o prêmio para Wilson Brumer que enviou mensagem. “Sinto honrado pela lembrança de meu nome pela Revista Brasil Mineral, e aproveito a oportunidade para enfatizar algumas reflexões para o setor mineral: O setor tem que ser reconhecido como agente de transformação e desenvolvimento, e a comunicação tem que ser sempre aprimorada”.  

A categoria Inovação e Tecnologia teve como vencedor Rodrigo Gomes (Gerente Geral de inovação da Nexa), que recebeu o troféu de Rodrigo Franceschini, da Abimaq. “Agradeço à Revista Brasil Mineral, e a história de inovação da Nexa é antiga. Trabalhamos com isso desde 2010. Essa governança de inovação nos propiciou estarmos em um patamar de desenvolvimento tecnológico em nível mundial”. 

Na categoria Pioneiros da Mineração (In Memorian) o homenageado foi Darcy Germani. Um dos filhos André Germani, em vídeo, agradeceu a homenagem ao seu pai. “Meu pai ficou mais de 20 anos na Vale e contribuiu muito pelo que a empresa é hoje. Desenvolveu o projeto Conceição de Itabira, além de presidir algumas subsidiárias da companhia”. 

Ivan Simões (Diretor de Assuntos Corporativos da Anglo American Brasil) – foi o premiado em Implementação de Práticas de ESG; Simões agradeceu, em vídeo, o prêmio e disse que na Anglo American o plano de mineração sustentável é o guia , a bússola da companhia. 

Na categoria Liderança Feminina, Ana Cunha (Diretora de Relações Governamentais, Responsabilidade Social, Comunicação e Relações Comunitárias da Kinross no Brasil, agradeceu a indicação e diz ter orgulho de ser mineradora. “Minha carreira foi dividida entre Porto Trombetas, no Pará, e em Minas Gerais. Liderança feminina é importante, desde que qualquer menina tenha a opção de escolher o que ela quer ser na vida. Independente de sua origem”. Patrícia Procópio , do WIM Brasil, vencedora da última edição, entregou o prêmio a Ana e disse que o olhar plural, diverso, é importante para a mineração, mas torce para que uma mulher não precise ter uma categoria específica. 

Ricardo Carvalho (CEO da CBA – Companhia Brasileira de Alumínio) – vencedor na categoria Gestão Empresarial, agradeceu o prêmio e disse que ele tem tudo a ver com as transformações que a CBA conseguiu implementar nos últimos anos. “Tenho privilégio de trabalhar com uma equipe motivada, e sempre nos desafiamos. Tenho orgulho do que nós, da CBA, fizemos nos últimos tempos”. 

Márcio Remédio (Diretor de Geologia e Recursos Minerais do SGB-CPRM) – foi o agraciado em Exploração Mineral e agradeceu a Brasil Mineral, ao Ministério de Minas e Energia e à equipe da SGB-CPRM.

Confira a galeria de fotos do evento:
(Crédito: Panóptica Multimídia)