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Impactado pela China, faturamento cai 24%

27/07/2022
Redução de importações chinesas foi a responsável pela queda de 52,5% do saldo comercial mineral no período na comparação com 2021.

 

O Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) divulgou o balanço referente ao primeiro semestre de 2022, mostrando que a redução de importações chinesas foi a responsável pela queda de 52,5% do saldo comercial mineral no período na comparação com 2021. “Mais uma vez está comprovado, com dados concretos, que a mineração, inclusive a do Brasil, tem um comportamento cíclico e depende dos humores do mercado internacional para apresentar bons resultados. O desempenho setorial do primeiro semestre está bem abaixo do que foi apurado no ano passado e o País perde divisas, atratividade para investimentos, geração de negócios, emprego, renda e tributos”, disse o presidente do IBRAM, Raul Jungmann.

Para ele, a mineração precisa ser estimulada e não pode ser alvo constante de ações internas que visam elevar seus custos e, assim, derrubar sua competitividade. “Os ataques especulativos, como os que ocorrem no Parlamento, precisam ser debelados e, enquanto isso, o faturamento do setor decai”, afirma Jungmann, ao fazer referência a propostas legislativas que buscam elevar valores de royalties, além da criação de taxas por estados, que recaem sobre as mineradoras, todos fatores danosos para a segurança jurídica e para a atração de investimentos”.  

As exportações de minério de ferro caíram de US$ 21,5 bilhões e 167,1 milhões de toneladas, em volume, no primeiro semestre de 2021, para US$ 15 bilhões (-30%) e 154,4 milhões (-7,6%) de toneladas no primeiro semestre deste ano. Já as exportações de ouro caíram quase 8% em receita (US$ 2,3 bilhões) no primeiro semestre de 2022 e 11,5% em toneladas, com 42,9 toneladas na comparação com o mesmo período de 2021. Os principais importadores de minério de ferro foram China (64,8%); Malásia (5,2%); Japão (4,1%); Barein (3,8%); Omã (3,1%); Países Baixos – Holanda (2,8%); Coreia do Sul (2,6%); Turquia (1,7%); Filipinas (1,6%); França (1,6%); Argentina (1,2%); Itália (1,1%); Bélgica (1,0%). Entre os principais importadores de ouro brasileiro na primeira metade de 2022 estão Canadá (33,9%); Índia (16,3%); Reino Unido (14,9%); Suíça (14,5%); Emirados Árabes Unidos (8,6%); Itália (4,0%); Bélgica (3,9%); Turquia (1,5%); Alemanha (1,0%); Estados Unidos (1,0%).

As importações no primeiro semestre atingiram US$ 9,4 bilhões, um crescimento de 200% na comparação com o primeiro semestre de 2021. Em volume, as importações somaram 22,25 milhões de toneladas, uma alta de 5% na comparação com os seis meses iniciais de 2021. O Brasil importou 93% a mais de minérios no segundo trimestre de 2022 em relação aos três meses iniciais do ano. O carvão mineral para uso siderúrgico e potássio para fabricação de fertilizantes apresentaram maiores percentuais nos custos das importações. Os principais fornecedores brasileiros de carvão siderúrgico no semestre foram Austrália (32,0%); Estados Unidos (27,5%); Colômbia (18,1%); e Rússia (17,5%); Já no segmento de potássio figuraram Canadá (32,5%); Rússia (27,5%); Belarus (13,5%); Alemanha (8,8%); e Israel (8,1).  

Com isto, o saldo comercial de minérios na balança comercial brasileira caiu 34%, do primeiro semestre de 2021 para a primeira metade deste ano, de US$ 24,5 bilhões para US$ 11,6 bilhões. Considerando apenas as exportações de minérios do Brasil para a China, houve redução de 29,7% em dólar e de 7,1% em toneladas. As exportações de minério de ferro para a China no semestre tiveram recuo de 32,3% em dólar e 7,2% em toneladas, na comparação com o mesmo período de 2021. As vendas externas de cobre caíram quase 28% em dólar e 22,2% em toneladas, enquanto as de zinco registram decréscimo de 34,6% e 34,3%, respectivamente.

Já as exportações de manganês para a China cresceram 32,5% em dólar e 20,2% em toneladas. As de pedras naturais e revestimentos ornamentais cresceram 30,4% em dólar e 3,2% em toneladas, enquanto as de nióbio aumentaram 16% e 1,6%, respectivamente. As exportações de caulim cresceram 18,3% em dólar, mas caíram 0,8% em toneladas. Outras substâncias minerais apresentaram crescimento de 84% em dólar e queda de 25,7% em volume. Entre os fatores que fizeram as importações chinesas de minérios caírem no semestre estão a redução de produção de aço por siderúrgicas locais em resposta às medidas de controle de qualidade do ar durante as Olimpíadas de Inverno, em fevereiro. Estas restrições ambientais foram rigorosamente impostas ao mercado físico pelo governo chinês; menor demanda das siderúrgicas chinesas que provocou aumento nos estoques portuários de minério de ferro; lockdown em várias regiões industriais na China, devido às medidas de controle para o novo surto de COVID-19, resultando em diminuição da demanda de aço nas indústrias e estagnação na aquisição de matérias-primas; quedas nas importações pela China, como uma das medidas de controle de preços para o segundo trimestre de 2022; intensificação chinesa nos controles de preços desde o terceiro trimestre do ano passado, enquanto a demanda da matéria-prima também diminuiu e queda de produção de aço da China de cerca de 6,7% em comparação com o mesmo período do ano passado. Além disso, o IBRAM cita a invasão da Rússia à Ucrânia, que gerou temor nos produtores globais, que tiveram mais cautela e reduziram seus percentuais de produção.

Faturamento de R$ 113,2 bilhões 

Com as exportações em queda no primeiro semestre, o faturamento do setor mineral caiu 24%, para R$ 113,2 bilhões na comparação com os R$ 149 bilhões de igual período de 2021. Este ano, de janeiro a março, a queda no faturamento já havia sido de 20%, em relação a igual período de 2021. No entanto, no 2º trimestre deste ano houve elevação de 1% no faturamento, em relação ao trimestre inicial de 2022, e a projeção é de recuperação gradativa dos resultados no 2º semestre deste ano, informa o IBRAM. O minério de ferro respondeu por 60% do faturamento da indústria mineral no semestre, seguido pelo ouro (10%) e pelo cobre (7%). 

Entre os estados, Minas Gerais registrou faturamento de R$ 45,2 bilhões no primeiro semestre, ultrapassando o Pará, que faturou R$ 41,4 bilhões no período. Por outro lado, os dois estados perderam em faturamento, sendo que Minas caiu de R$ 61,4 bilhões (-26%), enquanto o Pará reduziu em 37%, de R$ 65,4 bilhões. Minas Gerais assumiu a liderança pelo crescimento nas exportações de minério de ferro no 2º trimestre. Bahia, Mato Grosso e São Paulo registraram alta no faturamento no semestre e no 2º trimestre: O estado paulista (R$ 2,6 bi para R$ 3,6 bi) devido à produção de agregados para construção civil, de água mineral e fosfato; Mato Grosso (R$ 2,7 bi para r$ 2,9 bi) em razão da produção de ouro e calcário dolomítico (muito usado na correção de solos); enquanto a Bahia (R$ 4,1 bi para R$ 5,2 bi) por ser importante produtor de níquel, ouro, vanádio e rochas ornamentais.

O faturamento de Goiás cresceu de R$ 3,8 bilhões para R$ 4,1 bilhões. No primeiro semestre, Minas Gerais respondeu por 40% do faturamento; seguido pelo Pará (37%); outros (10%); Bahia (5%); Goiás (4%); São Paulo e Mato Grosso, 3% cada. 

Minério de ferro, ouro, cobre e bauxita tiveram queda no faturamento de 36%, 15%, 3% e 3%, respectivamente, no semestre. O faturamento do minério de ferro caiu de R$ 107,5 bilhões para R$ 68,3 bilhões na comparação dos semestres. O minério de ferro teve leve recuperação no comparativo trimestral, com alta de 9%. Calcário e granito registram alta no semestre e no 2º trimestre.

Tributos e empregos 

No total, a arrecadação de tributos e taxas caiu 24%: de R$ 51,4 bilhões no 1ºSEM21 para R$ 39 bilhões no 1ºSEM22. Somente a CFEM – Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais caiu 25%, com recolhimento de R$ 3,4 bilhões no período. O IBRAM ressalta que o total de recolhimento de CFEM não varia rigorosamente conforme o faturamento do período. A CFEM recolhida sobre o minério de ferro é mais expressiva: 71% do total. Em seguida estão: outras substâncias minerais, 17%; ouro 5,2%; cobre, 4,7%; minério de alumínio, 2,3%. Minas Gerais responde por 42% do recolhimento de CFEM no semestre, seguido por Pará - 39%; outros por 5%; Bahia por 3%; Mato Grosso por 2%; e Goiás por 1%. Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), 2.535 municípios recolheram CFEM no semestre e a maioria está em Minas Gerais (485), seguido por São Paulo (339 municípios), Rio Grande do Sul (210), Santa Catarina (186), Bahia (173); Paraná (175), Goiás (137), Mato Grosso (86), Ceará (84) e Rio de Janeiro (68).

Municípios de Minas Gerais, Pará e Mato Grosso do Sul compõem o grupo dos 15 maiores arrecadadores de CFEM por produção no primeiro semestre de 2022. Parauapebas (PA) lidera o ranking com R$ 545 milhões; Canaã dos Carajás (PA) com R$ 498 milhões vem em seguida e depois Conceição do Mato Dentro (MG) com R$ 191 milhões. Dos 15 maiores municípios arrecadadores de CFEM, nove têm IDH – Índice de Desenvolvimento Humano maior do que o IDH do estado: Parauapebas, Canaã dos Carajás, Marabá (PA); Mariana, Itabirito, Nova Lima, Congonhas, Ouro Preto e Paracatu (MG).

O IBRAM apurou que o setor mineral mantinha 201.658 empregos diretos em maio de 2022 (Novo CAGED). Cada vaga direta corresponde a outras 11 na cadeia produtiva, o que representa mais de dois milhões de empregos. Em janeiro, o total de empregos diretos era 198 mil. Os investimentos previstos para o período 2022-2026 estão situados em US$ 40,4 bilhões: US$ 18,7 bilhões em execução (46%) e US$ 21,7 bilhões (54%) programados. A maior parcela seguirá para projetos em MG (US$ 11,1 bilhões = 27%). Depois estão: PA (US$ 4,4 bilhões = 11%); BA (US$ 5,9 bilhões = 15%); outros estados (US$ 18,9 bilhões = 47%). Os maiores aportes serão para projetos de minério de ferro (US$ 13,6 bilhões); minérios para fertilizantes (US$ 5,7 bilhões); bauxita (US$ 5,5 bilhões); ferrovias e portos (US$ 2,9 bilhões); ouro (US$ 2,9 bilhões); cobre (US$ 1,2 bilhão). Outros projetos receberão US$ 8,4 bilhões, incluindo investimentos socioambientais, que somarão US$ 4,24 bilhões.