CONTEÚDO APRESENTADO POR:

Agrominerais ganham terreno na agricultura

27/05/2022
Último dia do encontro tratou de Remineralizadores de Solos e Fertilizantes Naturais: Mercado, Associados e Potencial da Produção Nacional.

 

O painel 3 do último dia do encontro tratou de Remineralizadores de Solos e Fertilizantes Naturais: Mercado, Associados e Potencial da Produção Nacional e teve a apresentação de Frederico Bernardez - Diretor Presidente da ABREFEN – Associação Brasileira dos Produtos de Remineralizadores de Solo e Fertilizantes Naturais, bem como de representantes da Embrapa, Ministério da Agricultura, SGB/CPRM e de uma entidade que pratica agricultura sustentável.  

Inicialmente, Bernardez disse que a ABREFEN tem como propósito contribuir para o setor, representar os seus acionistas, cooperar na construção ou revisão da legislação, políticas e nas decisões governamentais que impactem, direta ou indiretamente o setor, além de posicionar os remineralizadores de solo e fertilizantes de solo com atores importantes de transição na agricultura e promover a indústria da mineração, agro e bioeconomia, contribuindo com a economia nacional. Além disso, a associação visa reunir, armazenar e disponibilizar conteúdo relevante a toda cadeia de produção e uso dos remineralizadores de solo, além de fomentar e realizar pesquisas, cursos, seminários, exposições, como forma de estimular o intercâmbio de informações entre associados e fornecedores do setor. “Hoje se fala de mineração e agricultura, mas não há uma ligação entre as partes. É o que vemos no mercado e alguém tem que fazer esse diálogo”. Segundo ele, a ABREFEN está em busca da integração não apenas do mercado, mas das instituições como Ministério de Minas e Energia e Ministério da Agricultura, e também a pasta do Meio Ambiente. No Plano Nacional de Fertilizantes (PNF) será criado o Conferti que agrupará todos os ministérios. “Mas, não podemos deixar de fora as agências - ANM, Embrapa, SGB-CPRM”. 

Em relação aos remineralizadores, Bernardez disse que os produtos funcionam e há alguns grandes exemplos de sucesso na agricultura. Para saber a performance do produto, é necessária a integração da parte mineral, orgânica e biológica, que esteve muito tempo esquecida. Sobre os fertilizantes, Bernardez disse que a crise só agravou a dependência de fertilizantes por parte do Brasil. “O crescimento populacional e exponencial só nos mostra o quanto precisamos cada vez mais de alimentos, mas o uso de fertilizantes cresce e a produção brasileira diminui com tempo. Vai ficar insustentável”. Em parceria com Embrapa e MAPA, a ABREFEN fez um levantamento sobre as oportunidades do uso de minerais silicático no Brasil, que o País usa em mais de dois milhões de hectares (dados 2019). “O investimento para dobrar a produção dependerá não apenas de recursos, mas de trabalho, tempo, desenvolvimento. Há um indicativo de demanda de três milhões t em 2021 (dados preliminares do Anuário Mineral Brasil). O volume é maior que o do PNF, de dois milhões de toneladas (2021)”.

Entre as ações nacionais tomadas estão a lei nº 12.890/13, que institui os remineralizadores como insumos que podem ser usados na agricultura, a Instrução Normativa 5/2016, do MAPA, que fala dos condicionantes, o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), PL de Bioinsumos e a criação da ABREFEN, para conversar e representar o setor. “O Brasil é referencia em remineralizadores de solo para agricultura e vamos lançar uma revista digital exclusiva para o setor, além da parte de pesquisa. Para isto fizemos parceria com a Metso Outotec para melhorar o processo de beneficiamento do remineralizador. Soma-se a tudo isso o PL de Goiás, que prevê a criação estadual de um Plano de Fertilizantes, e se for exemplo, queremos levar para o Brasil inteiro”. 

PNF

Bernardez falou um pouco sobre o Plano Nacional de Fertilizantes lançado em março deste ano, que apresenta vantagens para a cadeia emergente dos remineralizadores ao elevar o raio de disponibilidade de matérias-primas em 300 km; “facilidade de produção comparada a outros minerais” e mineração de pequeno porte (nove mil pedreiras) com potencial para desenvolver remineralizadores de solo. Em contrapartida, o setor tem morosidade no desenvolvimento de produtos (três anos em média), necessidade de investimentos para produção de R$ 10 milhões até R$ 20 milhões, necessidade para pesquisa em longo prazo para manejo regional e integrado com outros insumos e cultura das pedreiras voltadas para o mercado de agregados para construção civil, sem conhecimento das demandas do agro. “Este último item, nós temos que desenvolver um produto para agricultura e não me livrar do lixo”. 

Atualmente, o setor tem cerca de trinta produtos registrados, de cinco mineradoras exclusivas e 25 co-produtos. A expectativa é atingir 100 produtos e dois milhões de toneladas em 2025, mas Bernardez acredita que o volume é possível de se alcançar antes. Uma novidade é o sequestro de carbono a partir de 2040, mas é preciso investir em pesquisa o quanto antes, pois, como temos 20 anos de GAP, ou faz ou joga para 2060. Um ponto de destaque mencionado pelo palestrante é a mineração limpa, aquela sem rejeitos, sem barragens, que atende a agenda ESG, sequestro de carbono, aproveitamento de material, mercado regulamentado, mercado de consumo desenvolvido rapidamente, oportunidade de aproximação com a sociedade e aumento da atratividade e/ou complementação de projetos e soberania nacional. 

Na sequência houve a apresentação de Éder Martins, da Embrapa Cerrado, que mostrou o ‘Mercado de Fertilizantes e de Remineralizadores de Solos: das Commodities às Soluções Regionais”. Segundo Éder, saímos de uma época de commodities fertilizantes para uma era de fontes regionais que não somente os remineralizadores. “Os fertilizantes vêm todos do hemisfério Norte para o Sul , o que demonstra nossa dependência (nitrogênio, fósforo, potássio) que é de antes da guerra na Ucrânia. 

O consumo de NPK tem crescimento continuo desde a década de 50, principalmente o potássio. Até meados de 1990 o consumo maior era de fósforo, o que abriu o Cerrado, mas depois o potássio assumiu protagonismo. “O mais grave é que o Brasil aumentou o consumo de nutrientes na agricultura, porém diminuiu produtividade, o que gerou uma baixa eficiência”, disse Martins. 

E de 2009 para cá, o fósforo acompanha o consumo e produtividade, mas os outros dois não. O potássio é a principal dependência do Brasil (13% do consumo mundial é brasileiro). “Temos que lembrar que as commodities de fertilizantes são finitas e as reservas atuais de potássio e fósforo podem gerar crises em 2060 e 2080, respectivamente. Desta forma, o Brasil tem que pensar em soluções regionais e locais, em agrominerais de baixo teor, próximos de áreas agrícolas”. 

Segundo Éder, a grande novidade dos remineralizadores é a formação de novas fases minerais que ficam no solo em longo prazo, permitindo mudar o solo para as próximas gerações. Mas estamos em processo de exaustão e precisamos superar os limites da revolução verde. Temos que avançar, o processo agrícola tem reduzido a qualidade do solo (perda da matéria orgânica ao longo do tempo). Com os remineralizadores, nós estamos renovando os solos agrícolas. “Estamos em novo paradigma que tem uma base mineral, que são fontes próximas das áreas agrícolas. Quanto mais perto, menos carbono será emitido. Além disso, temos geração de CTC permanente, aumento na eficiência de uso de nutrientes”.

Posteriormente, Éder comentou sobre Bioinsumos, que são microorganismos principalmente para controlar praga/doenças, mas o novo modelo busca o equilíbrio biótico. Os bioinsumos também fornecem nutrientes, além de atividade biológica pelo sistema de produção (manejo). “Quem consegue desenvolver esses três solos, consegue ter menor dependência, aumento do sequestro de carbono, melhoria do solo e de alimentos”. 

O palestrante seguinte foi Hideraldo Coelho, do Ministério da Agricultura, o qual afirmou que o Brasil passa por um momento de transição de modelo de agricultura baseada em agrotóxicos para os remineralizadores. “Quando me formei, agrotóxico era fantástico e hoje eles perderam totalmente o sentido. Agora a história é outra e necessita de integração. Precisamos investir em novas tecnologias sustentáveis que estão sendo cada vez mais exigidas”. 

Para ele, a Instrução Normativa (IN 5) torna o processo mais moroso. “A maioria dos investidores que querem produzir para fazer um remineralizador contam atualmente com uma série de laboratórios e após a legislação, a procura por análises aumentou. Apesar da demora em se obter os produtos, a pesquisa agronômica também está evoluindo”. 

Antes havia uma demanda reprimida de registro e agora, com a nova legislação, já foram 15 produtos registrados. Temos 33 produtos, dos quais cinco registrados em 2022. “Tudo começou lentamente, mas acredito que consigamos chegar a 100 produtos em 2025. Temos três produtos para ser praticamente registrados no Sul, outros dois ou três em Minas e vamos chegar a um registro mais facilitado. Se a rocha é a correta e não possui contaminantes, atendendo as especificações, o produto será registrado brevemente”. 

Hideraldo diz ser preciso uma integração entre a mineração e agricultura, por meio de canais de transferência de tecnologia, de convencimento, parcerias da indústria mineral com a pesquisa, algo que ficou para trás nos últimos tempos. Precisamos começar a trabalhar e incentivar para que a pesquisa chegue ao agricultor e as tecnologias sejam cada vez mais desenvolvidas. “A tecnologia de bioinsumo vem sendo adotada rapidamente pelos agricultores, por ter uma característica diferente, pois ele tem condição de ser feito na própria propriedade e atende à condição do agricultor e de sua propriedade. A recomendação de uso fará com que o empreendedor busque produtos mais próximos. Espero isso para os próximos dois ou três anos”. 

Magda Bergmann, do SGB-CPRM, tratou de remineralizadores e agrominerais silicáticos e começou falando sobre o SGB-CPRM, uma empresa pública que tema a missão de gerar e disseminar o conhecimento geocientífico contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e desenvolvimento sustentável do Brasil. 

“O conceito de remineralizadores é a aplicação de rochas moídas para recompor a fração de minerais intemperizáveis portadores de nutrientes importantes para as plantas”. Já o decreto nº 8.384/2014 define remineralizadores como materiais de origem mineral que tenham sofrido apenas redução e classificação de tamanho de partícula por processos mecânicos e que, aplicados ao solo, alteram os seus índices de fertilidade, por meio da adição de macronutrientes e micronutrientes para as plantas, e promova a melhoria de propriedades físicas, físico-química ou da atividade biológica do solo. “O que se mede não é apenas o fornecimento de nutrientes, mas as melhorias provocadas nas plantas, de variedades genéticas”. O MAPA tem sido inclusivo de maneira consequente, sem perder os cuidados com os riscos envolvidos com a técnica. Já foram concedidas mais de cem autorizações para comercialização de materiais secundários em diversos estados, incluindo materiais oriundos da mineração e da indústria minero-metalúrgica. 

Magda abordou as oportunidades e gargalos tecnológicos do basalto Serra Geral, na região Sul. “Tem basaltos comuns em áreas com mais de 50 km e 40 metros. São rochas vulcânicas que é alimentado constantemente pelo magma”. Os basaltos do Grupo Serra Geral são fontes de cálcio, magnésio, silica, ferro, manganês e, eventualmente de cobre e zinco. “São doze basaltos e dois dacitos registrados no MAPA e, caso você esteja no mesmo derrame, isto permite que você faça um consórcio de empresas de mineração, definindo um produto regional como o ‘Basalto de Uberlândia’”. Segundo Magda, isto dá a possibilidade de agilização de registro no MAPA para produtos a partir de rochas de um mesmo derrame, o que é uma vantagem. 

A representante do SGB-CPRM fechou sua participação citando a importância das linhas de financiamento que subsidiem o acesso dos agricultores a diversas categorias de agrominerais silicático (remineralizadores, fertilizantes simples, subprodutos e produtos novos). Além disso, Magda citou trabalhos de esclarecimento e incentivo dentro do novo cenário da mineração ao aproveitamento de descartes da mineração, a importância do estudo pelo MAPA de novas modalidades de fertilizantes do tipo rochas siicáticas, incluindo materiais como pastas de mineração e oportunidade de estabelecer apoio técnico do SGB-CPRM ao MAPA em questões relativas a esta nova rota tecnológica. “O SGB possui técnicos nas mais diversas regiões do Brasil, que podem contribuir em questões pontuais como visita a lavras e parecer geológico quanto a rochas e minerais em ambiente de lavras”. 

O último participante do dia, Rogério Vian, do GAAS – Grupo Associado de Agricultura Sustentável abordou o lado do agricultor com a apresentação ‘Mercado dos Remineralizadores, Lucratividade e Sustentabilidade na Prática’. O GASS está formalizado há três anos, com mais 900 associados e a meta é atingir 1.500 até o final de 2022. “Apesar de já atuar há nove anos, eu não utilizo cloreto de potássio há 18 anos em minhas áreas, nas quais aplico pó de rocha. Com isto, o agricultor consegue aumentar a eficiência do uso da água e dos fertilizantes, disponibilização de diversos nutrientes e melhoria da estrutura física do solo e sequestro de carbono”. 

A utilização de remineralizadores praticamente dobra de ano a ano e tem substituído o manejo tradicional. Agora, os agricultores realizam manejo biológico + remineralizadores que melhoram a produtividade e reduzem os custos no processo produtivo. A aplicação do novo manejo é praticamente igual ao modelo tradicional, com os mesmos equipamentos e algumas adaptações, pois o pó de rocha é mais fino que o calcário. “Existe também a aplicação na compostagem, há adição de superfície ativa ao processo de compostagem através da utilização de remineralizadores. Outro exemplo é a aplicação em confinamento, onde as fezes e urina do boi são depositadas e misturadas ao pó de rocha, somado com bagaço de cana e vinhoto pelo próprio gado. É um método sem odor e diminui muito a quantidade de moscas”. 

Vian comentou ainda sobre a agricultura de processos diferente da convencional. “Você tem que utilizar várias ferramentas, ter conhecimento para colocar nas safras e conseguir zerar os herbicidas”. Uma medida necessária é a reconstrução da estrutura microbiótica do solo com os remineralizadores aliada ao objetivo de eliminar a agricultura química, sem aplicar glifosato no solo. “Ao proteger o solo, você tem agricultura e a biologia é protegida. De preferência, com diversidade de raízes, com profundidades distintas com plantas que extraem algumas substâncias, enquanto outras fixam nutrientes”. 

Como exemplos de comunidades microbianas, Vian citou o TMT, chá de composto, microorganismos eficientes e esterco e disse não haver nenhuma comunidade ideal. “Todas as comunidades são ferramentas que fazem solubilização no solo e que são mais rápidas que o pó de rocha”. O agricultor faz ainda o controle biológico de pragas e a polinização de abelhas na plantação de soja, que gera aumento de mais de 20% na produção. “No fundo nós estamos falando de alimentos, de diversidade alimentícia, uma produção natural com a ajuda dos remineralizadores. Hoje tem mais de cinco milhões de hectares usando remineralizadores no Brasil”. O manejo biológico associado aos reminalizadores após três anos de transição promovem uma redução de 60% a 80% no uso de fertilizantes e pesticidas (meta é reduzir 90%), além de diminuir em até 30% os custos de produção. 

Para fechar a apresentação, Vian abordou o futuro da agricultura com remineralizadores, onde mencionou a importância de uma Política de Estado (Plano Nacional de uso integrado de remineralizadores); incentivo a pesquisa (juntar trabalhos existentes); modalidades de crédito para promover a cadeia até o produtor e melhoria da logística, dando condições favoráveis à distribuição dos remineralizadores. “Solo, planta e ser humano saudável”.

Video Url
SIMPÓSIO DE AGROMINERAIS
0:00 PAINEL 3: Remineralizadores de Solos e Fertilizantes Naturais: Mercado, Associados e Potencial da Produção Nacional - Frederico Bernardez - Diretor Presidente ABREFEN
PAINEL 4: Dependência Nacional & Crise Global - Brasil Pioneiro em Soluções Sustentáveis
36:36 Mercado de Fertilizantes e de Remineralizadores de Solos: das commodities às Soluções Regionais - Dr. Éder Martins - Embrapa Cerrados / Conselho Técnico ABREFEN
1:09:17 Hideraldo Coelho - Ministério da Agricultura
1:28:13 Remineralizadores e agrominerais silicáticos: oportunidades e desafios tecnológicos para obtenção de insumos alternativos para a agricultura - Magda Bergmann - SGB/CPRM
2:15:53 Mercado dos Remineralizadores de Solos, Lucratividade e Sustentabilidade na Prática - Rogério Vian - Presidente do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS)
2:44:50 Luiz Azevedo - Presidente ABPM
2:54:25 PAINEL 5 - Mesa Redonda: Palestrantes Técnicos respondem perguntas do auditório sobre Remineralizadores de Solos, Fertilizantes Naturais e Políticas Públicas - Welington Dal Bem - Diretor Vice-Presidente Abrefen (Moderador)